COM A POPULAÇÃO

Vereadores buscam aproximação, mas enfrentam polarização

Por Marília Porcari |
| Tempo de leitura: 4 min
Samuel Silva/JJ
Durante pautas polêmicas, público interrompeu falas de vereadores
Durante pautas polêmicas, público interrompeu falas de vereadores

As recentes discussões entre vereadores e público durante as sessões da Câmara têm levantado questionamentos sobre o diálogo entre políticos e povo. O plenário foi palco de agressões verbais de ambas as partes, além de momentos em que os parlamentares sequer conseguiram iniciar suas falas, já sendo vaiados ou interrompidos. Os pedidos de silêncio são constantes.

As opiniões divergentes devem ser respeitadas, acredita o vereador Faouaz Taha (PSD) mas, para ele, a política acaba dando voz aos extremos. “Vivemos muito isso nos últimos anos. Por isso mesmo, procuro trazer um equilíbrio. Somos humanos, podemos falhar, sobretudo quando houver alguma provocação. Mas temos que saber ouvir, recuar, pedir desculpas. Na democracia, sempre haverá opiniões divergentes, entre vereadores, ou até mesmo entre nós e a população, porém, é preciso respeito, diálogo. Política é construção”, considera.

O vereador acredita no bom relacionamento com a população, mas reforça que é necessário um comportamento mais pacífico e aumenta o diálogo. “Sempre usei as minhas redes sociais e meu gabinete como forma de aproximação, por isso, no dia a dia, a relação com as pessoas é muito positiva. Mas temos que ir além das nossas bolhas, por isso, defendo uma campanha de paz nas sessões, para que possamos entender a população e vice-versa”.

O aumento na participação popular também é defendido pelo vereador Cristiano Lopes (PP). Mas de outra forma: com a participação na construção de projetos. Ele defende que as reuniões das comissões permanentes deveriam ser públicas. “É ali que construímos os projetos e onde de fato as pessoas podem opinar. Quando chega a hora da sessão, as propostas já estão prontas, fica mais difícil mudar”, diz.

Mas Cristiano concorda que a polarização tem sido um grande problema nas relações. “A política partidária não pode ser maior que a pública. Prezo para que a comunidade esteja junto do vereador, construindo as propostas em parceria”.

Falta de representatividade

Para o doutor em Filosofia do Direito, Walter Celeste, a dificuldade na comunicação entre população e políticos se dá pela sensação de falta de representatividade. “Antes havia alternância entre dois partidos, um representando mais a direita e outro a esquerda. Simplesmente esse sistema político partidário se solapou”, diz, explicando que depois a população começou a ser bombardeada com a ideia de que não precisava de um político, mas de um gestor.

“Começou com João Dória (ex-prefeito de São Paulo e ex-governador), dizendo basicamente que ele não era um político e foi até cair no colo do Bolsonaro (ex-presidente), que acabou sendo populista de direita e capitalizou toda essa insatisfação no institucional”, destaca. O especialista ainda reforça que o cenário é de pessoas que não se sentem contempladas pelos políticos mas que vê neles a solução dos problemas.

Sobre a relação dos munícipes com os vereadores, a situação é mais delicada ainda. “Se isso ocorre no plano federal, imagine no plano municipal”, comenta. “Todas as demandas e insatisfações com sua vida são lançadas no colo dos vereadores. A população vê os políticos como se estivessem no Olimpo, longe dos problemas reais”, analisa, considerando que este é o motivo da dificuldade na comunicação, como se o político que poderia resolver as angústias da população não as conhece realmente.

Resgatar a confiança

Já o presidente da Câmara, Edicarlos Vieira (União), destaca que o diálogo não pode se transformar em ataque. “Todo mundo perde, inclusive a população, que deixa de ser representada da melhor forma. Acho que o caminho para superar isso é mais diálogo, mais transparência, e principalmente mais escuta. Estamos aqui para servir, não para ser inimigos. E é fundamental resgatar essa confiança”, diz.

Edicarlos acredita ainda que a sensação da população não ser ouvida vem, em parte, de um distanciamento histórico entre o poder público e as pessoas. “Durante muito tempo, a política foi tratada como algo distante, complicado, ou até inacessível. Soma-se a isso a frustração com promessas não cumpridas em várias esferas da política, e o resultado é esse sentimento de desconfiança”.

O presidente ainda assume o desafio de mostrar, com ações concretas, que a Câmara é um espaço aberto. Ele confia que as sessões em horário mais acessível é um dos caminhos: “Nosso foco é fazer com que cada cidadão de Jundiaí sinta que pode, sim, participar, sugerir, cobrar e ser parte das decisões. O Legislativo é a casa do povo e precisa funcionar como tal”.

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