O filme de Billy Wilder, de 1959, tinha Marilyn Monroe, Toni Curtis e Jack Lemon como atores. Foi enorme sucesso. Ainda hoje é considerado um fenômeno cinematográfico. Mas a situação do planeta é exatamente o contrário: quanto mais quente, pior. E os mais celebrados cientistas concordam que o planeta está aquecendo demais.
Por alguma razão ainda não totalmente explicada, o aquecimento está bem mais acelerado do que o previsto. Um cenário climático catastrófico está mais próximo do que se poderia esperar.
A OMM – Organização Meteorológica Mundial confirmou que 2024 foi o ano mais quente da história, com temperatura média global de 1,55º C, acima da média registrada antes da Revolução Industrial. E isso em virtude da concentração atmosférica dos gases gerados pela queima de combustíveis fósseis.
O aumento de fenômenos climáticos extremos, como as enchentes do Rio Grande do Sul, as queimadas na Amazônia e nos canaviais paulistas, são exemplos de que o mundo não anda bem. Inacreditável que, ainda no inverno, Los Angeles tenha ardido em chamas, com inédita destruição de espaço habitado pela elite americana.
Todos sabem que apenas uma redução drástica das emissões de gases do efeito estufa poderia inibir a elevação das temperaturas e reduzir a ocorrência de fenômenos extremos. O patamar estabelecido no Acordo de Paris, há dez anos, já foi quebrado.
O climatologista Carlos Nobre, uma das maiores autoridades mundiais no assunto, é um daqueles que hoje acredita na precipitação da situação de risco e concorda com a timidez dos cientistas ao não alarmarem governos e população quanto à intensidade da crise. No Brasil, o desmatamento para abrir espaço à pecuária e para a edificação de construções contra a natureza são fatores agravantes.
Para o responsável pela Cátedra Clima e Sustentabilidade do IEA, Instituto de Estudos Avançados da USP, “a ciência não conseguiu explicar ainda porque subiu tão rápido, mas, se continuar assim nos próximos três anos, provavelmente vamos concluir que já atingimos um aumento permanente de 1,5º C pelo menos vinte e cinco anos antes do previsto”.
Daí o seu desalento: “Estou apavorado. Ninguém previa isso; é muito rápido”. Se não houver algo muito drástico, o cenário é de total desolação. Catastrófico, apocalíptico, fatalista como gostam de acusar os negacionistas. Seria a extinção em massa de muitas espécies, bilhões de pessoas vulneráveis passando fome, o Sul Global em estado de calamidade permanente. O mundo será a terra inabitável prevista pelo escritor David Wallace Wells.
Quem não quiser experimentar o desastre total precisa fazer alguma coisa. Exigir dos governos maior responsabilidade climática. Plantar árvores e divulgar entre os que resistem à arborização a necessidade e a utilidade de árvores em abundância. A árvore reduz a temperatura e as ondas de calor estão matando mais do que as de frio. Ela ainda ajuda com serviços ecossistêmicos gratuitos, na fotossíntese e no sequestro do carbono. O lugar em que é plantada constitui um espaço para a absorção de água, que voltará por infiltração aos lençois freáticos, hoje debilitados pela intensa perfuração de poços artesianos.
Não há lugar nenhum do mundo que tenha excesso de árvores. O que há, sim, é desertos áridos em plena cidade. A diferença de temperatura entre áreas arborizadas e áreas sem árvores chega a dez graus! E isso mata. Por isso, o remédio está à disposição, é eficiente e barato. Plantio em abundância, para evitar a tragédia final e para trazer maior qualidade de vida para todas as cidades.
José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)