OPINIÃO

Tarifaço e o meme chinês


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Recebi na quinta-feira passada um meme, teoricamente feito pelos chineses, ironizando o tarifaço de Trump, mostrando como os americanos arquetípicos, obesos, não afeitos ao trabalho braçal, operários de chão, iam lidar com a tal reindustrialização americana, trabalhando em slow motion, com mais direitos que deveres, sem produtividade e competitividade. Era piada, mas talvez as iniciativas econômicas do presidente americano sejam um belo tiro no pé.

As políticas protecionistas adotadas por Trump causaram impactos significativos no comércio global. O aumento expressivo das tarifas sobre produtos importados, especialmente aqueles vindos da China, gerou uma reação em cadeia que não apenas redefiniu fluxos comerciais, mas também colocou em discussão questões relacionadas à sustentabilidade e à dinâmica competitiva entre os países. Em meio a esse cenário, o Brasil emergiu como um beneficiário potencial, principalmente em setores estratégicos como agronegócio, mineração e energias renováveis.

O tarifaço intensificou a transição de cadeias produtivas globais, criando pressões para o estabelecimento de novos parceiros comerciais e mudanças nos padrões de produção e consumo, impactando, inclusive, os próprios consumidores americanos, que terão de pagar mais para consumir as mesmas mercadorias. Embora algumas dessas alterações possam ser vistas como oportunidades, há também riscos ambientais significativos, e um impacto para a sustentabilidade mundial.

O tarifaço também abriu novas oportunidades para o Brasil se posicionar estrategicamente no cenário global. Algumas das áreas onde o país pode alavancar vantagens incluem o agronegócio. Com as  tarifas impostas às exportações chinesas para os EUA, o Brasil se consolidou como um fornecedor alternativo de soja, milho e carnes. O aumento das tarifas sobre produtos como o aço e o alumínio ampliou as oportunidades para o Brasil exportar esses itens a mercados que buscam diversificar suas fontes.

A crescente demanda por soluções sustentáveis posiciona o Brasil como um parceiro atrativo, devido à sua matriz energética limpa e avanços em energia solar e eólica. A bioenergia também surge como diferencial, principalmente o etanol, que pode atender mercados que buscam alternativas à dependência do petróleo.

O Brasil também enfrenta desafios para capitalizar plenamente as oportunidades geradas pelo tarifaço, como a  falta de infraestrutura adequada para escoar a produção, que limita o crescimento das exportações brasileiras. Além disso, a exigência crescente por produtos com rastreabilidade e responsabilidade socioambiental torna imprescindível o investimento em cadeias sustentáveis e a elevada dependência de produtos primários aumenta a vulnerabilidade do Brasil a oscilações de preços e mudanças no cenário internacional.

Os caminhos para o futuro, agora, incluem a ampliação na  presença em mercados globais e diversificação de parcerias para mitigar os riscos de dependência excessiva de um único mercado, transformar as vantagens competitivas naturais em diferenciais sustentáveis, posicionando-se como líder global em produção limpa e incentivar inovações para melhorar a produtividade e a rastreabilidade das cadeias produtivas.

Ariadne Gattolini é jornalista e escritora. Pós-graduada em ESG pela FGV-SP, administração de serviços pela FMABC e periodismo digital pela TecMonterrey, México. É editora-chefe do Grupo JJ.

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