Logo de início, trago à luz algo óbvio, mas que precisa ser devidamente colocado: seres humanos não são puramente lógicos. Nós estudamos a lógica e nos esforçamos para utilizá-la como guia para nossas decisões, mas ela é somente um dos fatores a ser considerado quando se trata de seres de “carne e osso”.
Temos emoções, buscamos recompensas pelos nossos esforços, compensações para nossas frustrações e expectativas para nosso futuro. Conscientes ou não, estes elementos são poderosos e influentes nas nossas decisões, validando a lógica ou deixando-a de lado.
Por vezes, esta complexidade no pensar e decidir parece uma fragilidade do ser humano que acaba por atrasar o seu próprio desenvolvimento, como se ele fosse o “elo” mais fraco em um processo mais amplo de aplicar o conhecimento.
O popular geofísico Sergio Sacani, famoso nas redes sociais pelo seu canal sobre exploração espacial e avanços tecnológicos deu um nome a uma percepção similar a esta, onde o ser humano, com seu corpo pouco adaptado à vida no espaço, seria o maior limitante à sua exploração. Carinhosamente chamou isso de “fator tripa”, em referência à nossa natureza inegavelmente crua e orgânica. Eu adorei a expressão.
Particularmente, acho que o “fator tripa” pode ser ampliado, limitando há tempos o desenvolvimento no ambiente terrestre mesmo, fazendo com que outros elementos “pesem” mais que a lógica em certas decisões cruciais. Vejamos progresso na área médica.
A medicina nunca foi uma ciência exata, mas adquiriu, na sua evolução, o uso de núcleos de ciência para desenvolver-se de forma segura, rápida e livre de tudo que não se prova útil mediante o crivo do método científico. Por isso a pesquisa é tão importante e faz parte dos fundamentos da medicina moderna, tão aclamada como sendo “baseada em evidências”.
Acontece que nem sempre é simples assim (fator “tripa” em ação). O exercício físico, por exemplo, é útil para a prevenção e tratamento de vários sintomas e processos doentios. É barato, de fácil acesso a todo ser humano, de qualquer classe social e sem efeitos colaterais quando minimamente bem utilizado.
Não faltam evidências cientificas para isso. Aliás, o nível de evidência é tão grande, que deveria ser prescrito como base de qualquer tratamento e ensinado desta forma em todas as faculdades que compõem a chamada área da saúde.
No entanto, quem capitaliza com essa prescrição? Que economia que é alavancada com este recurso? A indústria farmacêutica é a segunda mais rica (e influente) do mundo, atrás somente da indústria bélica.
Houve época em que exercício chegou a ser algo marginal, delegado a modismos, culturas e opiniões de muitos que o faziam sem critério e nem por isso eram questionados. Outros momentos em que incluir exercícios na rotina de forma diária tal como fazemos com nossa higiene básica era considerado exagero, fanatismo ou alguma outra corruptela mental.
Claro que o exercício tem seu lado lúdico (o que é ótimo) mas não obscurece seu potencial na saúde. As evidências deveriam assegurar que o exercício estivesse sempre no centro do nosso bem-estar, como sendo a sua base fundamental.
Isso claro, se fosse somente a lógica que guiasse essa decisão e não outros interesses. Ou o “fator tripa”, como queiram.
Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)
Comentários
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Jose Antonio Bergamo 11/04/2025Instrutivo!