
Ingredientes
- 1 kg de badejo ou robalo
- Meio maço de coentro
- Meio maço de cebolinha verde
- 1 cebola branca
- 4 tomates maduros
- 1 limão
- 4 colheres de azeite
- 1 colher (sopa) de colorau
- 1 colher (chá) de pimenta-do-reino
Mistura de culturas, incluindo europeia, indígena e africana, a moqueca tal e qual hoje a conhecemos e consumimos resulta de fantástica diversidade. Pra começo de conversa, a palavra que nomeia a comida tem raízes no “moquém”, jeito de secar a carne sobre braseiro. Mas os índios também preparavam peixes em utensílios de barro, técnica cerâmica posteriormente adotada por colonos e descendentes de africanos. Tal tradição é mantida até hoje pelas paneleiras de Goiabeiras e quem visita a terra capixaba sempre acaba comprando uma original. Como se vê, a especialidade não é apenas deliciosa; ela é carregada de história.
Conhecido por destacar o sabor natural dos ingredientes, o prato é típico de dois estados brasileiros: a Bahia e o Espírito Santo. Dizem os capixabas que a moqueca deles é a legítima, a outra é só mais uma peixada. Os baianos nada respondem, só riem. Três ingredientes são responsáveis pela diferença básica: os capixabas usam o imprescindível urucum, também conhecido como colorau que confere ao caldo linda cor acobreada; os baianos não dispensam o leite de coco e o dendê. Mas ambos elegem o coentro como inseparável da preparação. De fato, essa erva combina muito bem com peixe.
Orgulho do povo, a moqueca capixaba levou uma vereadora da capital a propor projeto de lei que instituiu um dia para lembrá-la, sob a alegação de que ‘a receita redunda em prato riquíssimo de sabores, aromas e tradições, servido nos principais restaurantes de Vitória, atraindo turistas de todo o Brasil e até de fora, interessados em degustar esse verdadeiro símbolo da nossa culinária.’
A experiência de saborear uma moqueca bem preparada, com todos os temperos que aguçam o paladar, é marcante. Quem aprecia peixe, costuma louvar, sobretudo quando ela é servida na panela de barro em que é preparada. Mas se você não tem uma panela de barro ou não gosta de coentro, faça mesmo assim, na sua panela comum e substituindo o coentro por salsinha. Também fica bom.
Limpe bem o peixe, corte-o em postas, reserve a cabeça para um pirão. Mergulhe tudo em uma vasilha com água, sal e suco de limão. Conserve assim por pelo menos uma hora. Corte miudamente a cebolinha e o coentro; em plumas a cebola branca; em rodelas os tomates. Misture a eles o colorau e mexa. Espalhe o azeite no fundo e laterais da panela e disponha metade dos temperos picados. Em seguida, arrume as postas do peixe escorridas e cubra-as com os temperos restantes, mais a pimenta. Não acrescente água. Tampe a panela e mantenha-a em fogo brando. Quando abrir fervura, aguarde cinco minutos, coloque algumas gotinhas de limão e desligue a chama. Tampe de novo e espere aproximadamente 10 minutos. Experimente o sal. E sirva, com cuia de farinha de mandioca ao lado ou, o que é mais típico, com pirão, cujo processo de preparo é bem simples. Retire a cabeça do peixe da água salgada e coloque numa panela. Acrescente água fervente e deixe cozinhar até desmanchar. Elimine os ossos coando a mistura em peneira. Retorne o caldo ao fogo baixo, experimente o sal e acrescente a farinha aos poucos, mexendo sempre para não embolar.
Sonia Machiavelli é professora, jornalista, escritora; membro da Academia Francana de Letras.