Toda grande mudança assusta. Sempre foi assim. Quando a Revolução Industrial trocou a força de trabalho manual por máquinas, muitos temeram pelo fim dos empregos. Quando os computadores chegaram aos escritórios, houve pânico – quem precisaria de tanta tecnologia? Depois veio a internet, que prometia revolucionar a comunicação, mas também trouxe receios sobre privacidade, controle e o desconhecido.
Agora, estamos diante de uma transformação ainda maior: a Inteligência Artificial. O que torna essa mudança diferente das outras? Não é a incerteza – porque ela sempre existiu. O que impressiona agora é a velocidade. A IA está evoluindo rápido, e suas aplicações estão se espalhando por todos os setores: finanças, atendimento, saúde, logística, marketing, entretenimento…
Dessa vez, a mudança não é apenas sobre automatizar tarefas ou otimizar processos. É sobre reescrever a forma como trabalhamos, criamos e até tomamos decisões. A IA não é apenas uma ferramenta; ela já está se tornando parceira de profissionais, antecipando necessidades, sugerindo caminhos e, em muitos casos, assumindo funções que antes exigiam anos de experiência humana.
E isso gera um desconforto. Afinal, se tudo está mudando tão rápido, como nos preparamos para um futuro que ainda não está claro? Como se manter relevante quando não sabemos quais empregos existirão daqui a cinco ou dez anos?
Esse medo não é irracional. Conheço histórias de pessoas que, ao pararem de trabalhar – seja por aposentadoria ou por venderem suas empresas –, entraram em uma espécie de crise existencial. Depois de anos construindo carreiras e se dedicando a uma rotina profissional, de repente, o tempo livre se tornou um problema. Elas sentiram um vazio, como se estivessem desconectadas do mundo. Algumas encontraram novas ocupações, investiram em filantropia, abriram novos negócios. Outras, sem um propósito claro, mergulharam em uma espiral de desmotivação.
Agora, imagine um futuro onde o trabalho, como conhecemos hoje, deixa de ser essencial. Onde a IA e a automação resolvem a maior parte dos problemas diários e garantem nossa subsistência. O que você faria com seu tempo? A princípio, pode parecer um sonho – mais liberdade, menos preocupação. Mas será que saberíamos lidar com isso?
Nosso propósito hoje está, em grande parte, atrelado ao trabalho. Não apenas pelo dinheiro, mas pela sensação de pertencimento, de contribuição. Se essa estrutura for radicalmente alterada, vamos precisar encontrar novas formas de nos sentir úteis, desafiados, engajados. E essa talvez seja a grande pergunta que ninguém está respondendo: não é apenas sobre como a IA vai transformar o mundo, mas sobre como nós, seres humanos, vamos nos transformar junto com ela.
A IA já está mudando a forma como aprendemos, trabalhamos e interagimos. A única escolha que temos é como vamos reagir a isso. Vamos ignorar e ser engolidos pela mudança? Ou vamos usá-la para reinventar o que significa viver com propósito?
Elton Monteiro é empreendedor, mentor, investidor e especialista em IA