OPINIÃO

As moléculas da esperança


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A ciência tem reforçado a relação entre atividade física e saúde mental, revelando que o movimento do corpo vai muito além do fortalecimento muscular, falo disso há muito tempo para vocês. Estudos indicam que, ao contrair os músculos, o organismo libera proteínas chamadas miocinas, que entram na corrente sanguínea e desempenham um papel essencial na redução do estresse, no combate à depressão e até na recuperação de traumas. As miocinas vêm sendo chamadas de “moléculas da esperança”, pois atuam como antidepressivos naturais.

A depressão afeta milhões de pessoas no mundo. Embora os tratamentos convencionais sejam fundamentais, a prática de exercícios físicos tem se mostrado um complemento poderoso. O que antes era atribuído apenas à liberação de endorfinas agora tem um respaldo ainda mais sólido: os músculos funcionam como um órgão endócrino, produzindo substâncias que regulam o humor, a saúde cerebral e o metabolismo. Maravilhoso, não é?

Diversas miocinas liberadas durante o exercício físico impactam diretamente a função cerebral. Entre as mais estudadas estão a Irisina, produzida durante a contração muscular, que estimula a formação de novos neurônios, além de aumentar a plasticidade cerebral, também reduz inflamações e melhora o metabolismo, contribuindo para o bem-estar geral. O BDNF (Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro) é um dos principais responsáveis pelo crescimento e sobrevivência dos neurônios e sua liberação aumenta com o exercício físico, fortalecendo as conexões cerebrais e reduzindo o risco de transtornos depressivos. A IL-6 (Interleucina-6 de origem muscular), ao contrário da IL-6 inflamatória associada a doenças, é a versão secretada pelo músculo e  atua como anti-inflamatório, equilibrando a resposta imunológica e promovendo benefícios para a saúde mental. A Catepsina B participa da neuroplasticidade, ajudando o cérebro a se adaptar e a se recuperar de situações de estresse crônico.

Essas proteínas estabelecem uma ponte bioquímica entre o movimento e a saúde mental, explicando por que a prática regular de atividades físicas pode ser tão eficaz no alívio do estresse e na prevenção da depressão.

A ciência também mostrou que não é necessário um treino intenso para colher esses benefícios. Qualquer forma de movimento que envolve a contração muscular, desde uma caminhada até o levantamento de pesos,  estimula a liberação dessas moléculas antidepressivas. O fator mais importante é a regularidade!

Além disso, o impacto positivo do exercício não se restringe apenas ao humor. As miocinas também melhoram a memória, a concentração e ajudam a prevenir doenças neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson.

As miocinas exercem funções vitais na regulação de processos metabólicos e inflamatórios, atuam na hipertrofia muscular, regulam o metabolismo da gordura, reduzem a inflamação crônica, diminuindo o risco de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e obesidade, aumentam a sensibilidade à insulina, ajudando no controle da glicemia e fortalecem os ossos, prevenindo condições como a osteoporose.

Uma das principais funções das miocinas é a modulação da inflamação. Sabemos que a inflamação crônica está associada a diversas doenças, incluindo doenças autoimunes e síndromes metabólicas. Além de seus efeitos no sistema imunológico e metabólico, as miocinas também desempenham um papel crucial na regeneração muscular e na adaptação do corpo ao esforço físico, tornando-se ainda mais relevantes para idosos e indivíduos em recuperação de lesões.

Diante dessas descobertas, fica cada vez mais claro que o exercício físico não é apenas uma prática para manter o corpo em forma, mas uma ferramenta poderosa para a saúde integral.

Quando dizemos que exercício é remédio, talvez a explicação esteja justamente nas miocinas. Elas são a chave para entender por que o movimento alivia dores, melhora a saúde metabólica e protege o cérebro. O segredo está em tomar sua dose diária de exercício – seja na academia, no parque ou até em casa. Afinal, cuidar do corpo é também cuidar da mente. Muita saúde a todos.

Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)

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