Quando falamos em saúde e bem-estar, logo pensamos em alimentação equilibrada, atividade física e sono de qualidade. Mas há um fator essencial, muitas vezes negligenciado, que impacta diretamente nossa autonomia e longevidade: a mobilidade articular.
Sabe porque ela é tão importante? Diferente da flexibilidade, que se refere à capacidade de um músculo alongar-se passivamente, a mobilidade está relacionada à liberdade e ao controle dos movimentos dentro da amplitude ideal de cada articulação. Ou seja, não basta apenas ser flexível; é preciso ter estabilidade e controle ativo para realizar movimentos sem restrições ou compensações.
Com o passar dos anos, a falta de mobilidade pode resultar em dores crônicas, posturas inadequadas e até mesmo limitação para atividades simples do dia a dia, como agachar para pegar algo no chão ou levantar-se sem apoio. Quando não nos movemos bem, nosso corpo compensa, sobrecarregando articulações e músculos, o que pode levar a dores, lesões e a uma perda progressiva de autonomia.
A falta de mobilidade causa a diminuição da amplitude dos movimentos articulares. O envelhecimento, que naturalmente causa a perda de massa óssea, rigidez e limitação articular e, especialmente, o sedentarismo, que está associado à falta de movimentos e estímulos para a articulação, podem contribuir para essa perda de amplitude articular.
A ciência já mostrou que a mobilidade está diretamente ligada à expectativa e qualidade de vida. Um estudo publicado no European Journal of Preventive Cardiology revelou que a capacidade de sentar e levantar do chão sem apoio está associada a um menor risco de mortalidade em adultos. Isso porque uma boa mobilidade indica força muscular, equilíbrio e controle motor, fatores essenciais para evitar quedas, que são uma das principais causas de hospitalização em idosos.
Além disso, uma mobilidade preservada permite que a pessoa se mantenha ativa, pratique esportes, dance, caminhe e realize atividades que promovam saúde mental e socialização. Em outras palavras, ser móvel é ser livre para viver bem!
Mas será que sua mobilidade está comprometida? Há alguns testes simples que podem indicar se há restrições de mobilidade no seu corpo. Experimente o agachamento profundo: você consegue agachar até o máximo de sua amplitude sem tirar os calcanhares do chão e sem curvar excessivamente a coluna? Alcance dos braços: com um braço por cima do ombro e outro por trás das costas, você consegue tocar as mãos? Rotação de tronco: sentado com as pernas fixas, tente girar o tronco para cada lado. Há assimetrias ou dificuldades? Se qualquer um desses movimentos parecer difícil ou desconfortável, sua mobilidade pode precisar de atenção nesta região. A boa notícia é que a mobilidade pode ser trabalhada e recuperada com a prática certa.
Os exercícios de mobilidade estimulam a produção do líquido sinovial, que é responsável pela lubrificação das articulações, diminuindo a possibilidade de impactos, processos degenerativos e, consequentemente, dor causada por essas condições.
Para treinar a mobilidade há exercícios e métodos específicos, mas podemos incluir mais movimento em nosso dia-a-dia, evitando ficar muito tempo em uma única posição, pois isso reduz a lubrificação das articulações e favorece tensões musculares. Levante-se a cada 30 minutos e faça pequenos alongamentos. O treinamento de força é também fundamental e deve ser equilibrado com exercícios que preservem a amplitude articular. Além disso, a forma como respiramos influencia diretamente nossa postura e mobilidade. Técnicas de respiração associadas ao movimento podem potencializar os ganhos.
A mobilidade articular não é apenas um detalhe na saúde, ela é um pilar essencial para uma vida longa, ativa e sem dores. Pequenas mudanças na rotina podem fazer uma grande diferença no futuro.Teste sua mobilidade, movimente-se mais e cuide do seu corpo com carinho. Afinal, um corpo que se move bem é um corpo que vive com liberdade! Muita saúde a todos.
Liciana Rossi é especialista em coluna e treinamento desportivo, pioneira do método ELDOA no Brasil (licianarossi@terra.com.br)