OPINIÃO

Educação precisa se reinventar


| Tempo de leitura: 3 min

A profunda mutação tecnológica trará transformações inimagináveis para a sociedade. A educação está muito lenta, seja em assimilar a urgência de troca dos sistemas de ensino, seja em preparar as novas gerações para um sistema de trabalho hoje ainda incipiente.

Continuamos o estilo “decoreba”, quando o mundo descartará inúmeras profissões e necessitará de habilidades nunca enfrentadas na escola convencional.

É interessante, por isso mesmo, que todas as escolas tenham equipes de inovação, com apoio ou não da direção. O ideal é que diretores sejam criativos, estimulem a implementação de novos métodos, de sistemáticas pioneiras e ouçam todos os interessados. Essa infância/juventude mergulhada em algoritmos é perita em formular alternativas. Não se pode dispensar a colaboração dos principais interessados. A escola existe para os alunos. Os que a dirigem devem estar atentos à demanda dos destinatários. Em relação à escola pública, então, o aluno é o verdadeiro patrão. Ele tem de mostrar quais os seus interesses, suas necessidades, para que a política estatal o atenda. Dentro em poucos anos, o aluno de hoje é que regerá a convivência.

Nessa linha, é válido se valer daquilo que nossa mais prestigiada Universidade já faz. Há mais de vinte anos funciona na Faculdade de Educação da USP o laboratório aberto de experimentações chamado Lab-arte. É uma visão holística do processo educacional, que inclui arte e cultura no ensino-aprendizado. A sua contribuição é expressiva. Atua como laboratório didático, diretório de pesquisa em pós-graduação e oferece atividade permanente em extensão.

Se a profissão docente se aperceber de que a experimentação com variadas atividades artísticas e culturais fornecem novas maneiras de abordagem da educação, esta merecerá a urgente atualização que entusiasmará o educando. Hoje, nem todo estudante se apaixona com a reiterada transmissão de informações, no método tradicional, se os dados estão disponíveis em inúmeros espaços web. As aulas prelecionais não conseguem despertar o interesse de quem precisa se convencer de que, sem educação de qualidade, não há futuro digno, nem amanhã promissor.

Múltiplos instrumentos podem ser incorporados à rotina das aulas: fotografia, audiovisuais, contação de histórias, jogos de tabuleiro, RPG (Role-Playing Game, jogo de narrativas), cineclube e bordado livre são algumas das ações plausíveis, sem exclusão de quaisquer outras. Não é necessário aguardar a pós-graduação para implementar tais experimentos. E pensar que São Paulo já contou com os Institutos de Educação Experimental, de tão saudosa memória. O IEE de Jundiaí, hoje “Escola Estadual Dom Gabriel Paulino Bueno Couto” era tão eficiente, que seus graduandos ingressavam no ensino superior sem a necessidade dos famigerados “cursinhos” para o vestibular.

O Lab é esse ponto de convergência de novas ideias, a validação da arte, da cultura em sentido lato, do acolhimento de outras pessoas, do estabelecimento de diálogo entre a escola e a comunidade em que está inserida. Vale a pena conhecer o que lá se faz e tentar replicar em âmbito local. Todas as artes podem ser ferramentas eficazes de consolidação do saber. Um pequeno exemplo: se o aluno se envolver num projeto teatral, aprenderá muito mais do que se permanecer sentado em fileiras, silente e passivamente à espera daquilo que será ministrado nas aulas tradicionais. Criatividade, minha gente. O amanhã agradece.

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

Comentários

Comentários