OPINIÃO

Escola sem celular


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Os estudantes de São Paulo retornam às aulas nesta semana com uma novidade: a proibição do uso de celular em sala de aula. Essa é uma medida que divide opiniões e tem preocupado estudantes, pais e professores.

Para além de seus impactos a curto prazo, o banimento dos celulares acendeu um debate fundamental que deve ser posto à mesa, sobre o uso da tecnologia no ambiente escolar.

Vivemos uma era na qual revoluções acontecem em espaços cada vez mais curtos de tempo, impulsionadas pelo avanço da tecnologia. Há muitos anos trocamos as grandes enciclopédias por pesquisas no Google.

E, mais recentemente, o desenvolvimento da inteligência artificial tem mostrado como essa ferramenta pode ser valiosa na ampliação de conceitos e apresentação de novas perspectivas.

Isso sem falar nos aplicativos educativos e plataformas de ensino que oferecem recursos pedagógicos riquíssimos.

Essa é uma realidade que não pode ser ignorada.

Por outro lado, o banimento dos celulares no ambiente escolar está alicerçado na experiência concreta de um uso livre e desregrado. Segundo o Relatório Global de Monitoramento da Educação, organizado pela Unesco, pelo menos um em cada quatro países já adotou leis que proíbem o uso de celulares nas escolas.

A dependência desse pequeno aparelho é capaz de desconcentrar estudantes em sala de aula e dificultar o aprendizado. Focados nas telas, eles têm comprometido o desenvolvimento de habilidades para interação presencial, fundamentais para o convívio social.

Isso sem falar na ameaça do cyberbullying. Sim, essa prática nociva migrou para o ambiente virtual e encontraram solo fértil nas redes sociais. Sem celulares à mão, as escolas podem se tornar ambientes emocionalmente mais seguros para os estudantes.  

Toda esta complexidade tem dividido a sociedade em torno do banimento dos celulares nas escolas. Em outubro do ano passado, uma pesquisa produzida pelo Datafolha revelou que 62% da população apoia a medida.

E se considerarmos apenas entrevistados com filhos até 18 anos, o percentual é ainda maior e sobe para 65%. É um número considerável, mas está longe de ser uma unanimidade.

No mês seguinte à publicação desta pesquisa, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas escolas das redes pública e privada no Estado de São Paulo. Eu estou entre os signatários deste texto.

O banimento dos celulares nas escolas será difícil para alguns, e celebrado por outros. Devemos aproveitar esse momento de adaptação à mudança para aprofundar o debate sobre o uso educacional das novas tecnologias.

Difícil imaginar como os nossos estudantes serão preparados para um mundo digital, submetidos a uma metodologia analógica. Não podemos ver a tecnologia como inimiga, precisamos encontrar a melhor forma de usá-la no ambiente educacional.

Não existe fórmula pronta, mas podemos nos inspirar em boas práticas adotadas mundo afora e adaptá-las à nossa realidade. Esse processo deve incluir, obrigatoriamente, a elaboração de um plano estruturado de trabalho, a qualificação de professores e o investimento em equipamentos para as escolas.

Que esse debate floresça, para o bem dos nossos estudantes.

Mário Maurici de Lima Morais é jornalista. Foi vereador e prefeito de Franco da Rocha, vice-presidente da EBC e presidente da Ceagesp. Atualmente, é deputado estadual em São Paulo

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