OPINIÃO

Os desafios de 2025


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O ano de 2025 começa sob o signo do choque de juros anunciado pelo Banco Central na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em dezembro. Além de surpreender os agentes econômicos com a elevação da Selic em 1 p.p., o Copom informou que deverá fazer mais dois aumentos nos juros, na mesma proporção, nas próximas reuniões. Isso significa que, em março, a Selic deverá estar em 14,25%.

A política monetária apertada deverá restringir a concessão de crédito, esfriando a economia. O país contará ainda com um menor impulso fiscal por parte do governo, o que também contribui para a desaceleração do Produto Interno Bruto (PIB).

Neste quadro mais desafiador, um terceiro item a ser considerado é o cenário externo à frente, de maior incerteza. A expectativa é que os Estados Unidos elevem as tarifas de importação – na campanha, o presidente eleito, Donald Trump, prometeu um aumento generalizado, chegando a 60% para bens chineses.

O maior protecionismo nos EUA deverá resultar em inflação e juros internacionais mais altos. Juros norte-americanos mais elevados implicam um dólar mais apreciado no mercado externo o que pode pressionar, sobretudo, as moedas emergentes.

Diante desses fatores, é consenso entre os agentes econômicos que a economia brasileira, em 2025, irá desacelerar em comparação com 2024. O número final do PIB do ano passado deverá ficar próximo dos 3,5% e, para este ano, o mercado estima crescimento de 2% - mesma projeção da Fiesp.

A indústria de transformação, depois de um ano de robusta recuperação, seguirá no terreno positivo em 2025, mas desacelerando em função dos juros altos e das condições financeiras mais restritivas que serão sentidas, sobretudo, no segundo semestre. A expectativa da Fiesp é de um avanço de 1,1%, depois de um crescimento de estimado em 3,6% do PIB do setor em 2024.

As previsões atuais indicam que demais atividades econômicas também deverão esfriar, mas sem escorregar para o vermelho. O setor de serviços deverá continuar resiliente, embora seja esperado arrefecimento em 2025 (+2,1%); é esperada uma acomodação no consumo das famílias (+2,8%) e nos investimentos (+1,9%), após o forte desempenho de 2024; a expectativa para a construção civil também é de crescimento menor em 2025 (+1,5%), devido aos efeitos adversos da elevada taxa de juros, limitações do financiamento e pressões sobre os custos.

Há, porém, possíveis surpresas positivas de setores menos sensíveis ao ciclo econômico. A agropecuária, que registrou um ano excepcional em 2023 (+16,3%), teve um 2024 negativo (previsão de -2,4%). Este ano, o segmento deve recuperar essas perdas e ir além (estimativa +3%).

A indústria extrativa também teve um excelente 2023 (+9,2%), viveu uma acomodação em 2024 (+1,3%) e deve avançar um pouco mais em 2025 (+2,5%). Com essas perspectivas, esses setores podem atuar no sentido contrário das forças contracionistas, sendo vetores positivos para o desempenho da economia como um todo. 

Em resumo, após o forte desempenho de 2024, a economia brasileira irá reduzir a marcha neste ano, principalmente, em função dos juros bastante elevados que o Banco Central está praticando – o mercado aposta que a Selic irá encerrar o ano em 14%. 

A maior preocupação dos agentes econômicos é com a situação fiscal do país, pois há o temor que a trajetória da dívida seja insustentável. Esta é uma situação que se repete e precisa ser enfrentada pelos três poderes de forma estrutural, repensando a rigidez do orçamento e melhorando a eficiência do Estado.  

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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