Não creio que a energia que acompanha o dia 31 de dezembro, advinda da confluência de astros e outros elementos afins, mude drasticamente em uma questão de horas, quando chega o dia primeiro de janeiro, salvo (muito) raras exceções.
Contudo, por lidar com energia e o intangível, eu sou muito solicitado para opinar sobre os diversos “rituais” realizados nesta época, com o intuito de potencializar os canais e vias estruturadoras da nossa realidade. Diante da pergunta, eu procuro sempre agir da mesma forma:
- Você acredita nisso que você quer fazer? – devolvo a pergunta.
Quando falo isso procuro trazer à luz um aspecto interessante: a crença de cada um. Acreditar é uma ação, tão consistente para nosso cérebro quanto, por exemplo, caminhar ou comer. Isso é comprovado inclusive com exames de imagem semelhantes às ressonâncias magnéticas que usamos nos nossos diagnósticos médicos.
Quando acreditamos em algo, nosso cérebro funciona de maneira diferente. Áreas que estavam “dormentes” acordam e, principalmente, fazem relação com outras áreas, modificando o funcionamento delas. Pela medicina oriental dizemos que fluxos e campos energéticos dos meridianos são modificados, dentro e fora da pessoa.
A partir daí, diante de um indivíduo que se modificou de forma consistente e comprovável pela força de uma crença, o mundo começa a “reagir” também de uma forma diferente.
Poderíamos chamar esta crença igualmente de “fé”, se excluirmos o sentido que vincula a palavra a uma ou outra religião, pois falo de algo que ocorre com todos os humanos, um fenômeno “psico-biológico”, independente de alinhamento filosófico ou religioso do indivíduo. De fato, ocorre mesmo entre aqueles que não possuem alinhamento algum ou se negam a tê-lo. Basta ter consciência que se experimenta a “crença”.
Dentro da terapêutica médica usamos e manipulamos a crença para obter melhores resultados: Caso, ao receitar uma medicação para o tratamento de um paciente, eu comentar que tive que me submeter ao mesmo tratamento e que gostei muito do efeito do remédio, acabo de aumentar as chances de ele funcionar de maneira primorosa.
A crença do paciente na minha expertise, como médico, dentro da sua mente é automaticamente transferida para o ato de tomar o remédio, gerando uma maior secreção de elementos em prol da cura por parte do corpo enfermo. Isso é uma reação típica a qual damos o nome de “efeito placebo”.
O efeito placebo, por vezes, pode dobrar a ação de determinada medicação, só pelo fato de o paciente acreditar no processo. Este fato é também levado em conta mesmo em estudos científicos, observados nos chamados “grupos controle”: é comum que eles tenham algum resultado mesmo sem tomarem os remédios testados efetivamente e o responsável disso é o efeito placebo, desencadeado pela crença no ato de medicar.
Por fim, para os que têm receio de tornar a sua crença mais “plástica”, e manipulável, porque isso pareceria que se está “enganando” o corpo, eu diria que vejo isso muito mais como uma escolha na direção do que se busca, sem razão de ser alvo de críticas por um moralismo deslocado de propósito.
Vejam, caso queira-se ir para uma outra cidade, escolhe-se uma via rápida e direta que vá na direção de onde se quer chegar, mesmo havendo outras vias. A escolha pela crença não invalida o caminho escolhido, só o reforça.
Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)