OPINIÃO

Cavalo é para montar ou para cantar?

Por Lucas Augusto Machado | Especial para a Sampi
| Tempo de leitura: 3 min
Reprodução

Nestes muitos anos que estou envolvido no fascinante Mundo Equestre, vivi uma infinidade de histórias e experiências. Esse ambiente é um mosaico de histórias curiosas, momentos hilários e grandes lições de vida – tanto que estou pensando seriamente em reunir algumas das melhores “pérolas” desse mundo em um livro. Afinal, o universo do cavalo é encantador, profissional e, acima de tudo, cheio de personagens que merecem ser lembrados.

Hoje, o setor equestre evoluiu e se profissionalizou enormemente. As negociações de cavalos são regulamentadas, seguindo padrões internacionais e passando por avaliações rigorosas. Com a tecnologia, temos leilões virtuais onde todos os detalhes do animal são expostos, com exames médicos completos e a possibilidade de avaliar o cavalo antes de qualquer compromisso financeiro. Mas, no passado, as coisas eram bem diferentes. Muitos negócios eram fechados no famoso “fio do bigode”, onde a palavra dada valia mais do que qualquer contrato assinado.

E há uma história que ilustra bem esse período. Era comum naquela época ouvir sobre criadores que lidavam com esses acordos de confiança, e um deles era um senhor do interior paulista, que já era muito respeitado e tradicional. Infelizmente, ele já faleceu há décadas, mas o que presenciei com ele marcou minha memória.

Esse criador tinha um cavalo realmente belo, um animal que chamava atenção de todos, mas que, infelizmente, havia sofrido um acidente e perdido parte da língua. Mesmo assim, esse cavalo foi vendido a outro fazendeiro de confiança, sem que o comprador visse o animal pessoalmente – algo comum na época, quando os negócios eram feitos pela palavra.

O tempo passou, o cavalo foi entregue, e os dois fazendeiros se encontraram casualmente em uma roda de conversa. Numa mistura de amizade e cordialidade, o fazendeiro comprador trouxe o assunto à tona, questionando o amigo: “Você me vendeu um cavalo sem língua!” A situação, que poderia ter ficado desconfortável, foi rapidamente desarmada pela resposta do vendedor. Sem pestanejar, ele olhou nos olhos do outro e disse: “Ué, você quer um cavalo para montar ou para cantar?”

Esse episódio, que me fez rir na hora e continua me arrancando sorrisos, é um exemplo de como o mundo do cavalo era conduzido com simplicidade e muita lábia, mas também com uma leveza da infeliz “Lei de Gérson”.  Hoje, seguimos outro ritmo, outro rigor, uma cultura equestre bem profissional e muito segura, onde além do respeito, do “fio do bigode”, temos a Lei que expurga quem tenta manchar o mercado.  Porém, histórias como essa lembram que o cavalo, acima de tudo, é um símbolo de parceria e de histórias inesquecíveis e acima de tudo de evolução.

Essas histórias são parte da beleza desse mundo, onde o respeito pelo animal e a confiança entre os criadores sempre foram valores fundamentais. Quem sabe, no futuro, você possa se divertir com essas e outras “pérolas” em um livro dedicado a elas.

Lucas Augusto Machado é jornalista formado pela Unesp, empresário, atuando no ramo equestre no Brasil e exterior há aproximadamente 30 anos, com ampla experiência em diversas Raças e modalidades esportivas.

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