OPINIÃO

Evolução e a inclusão do novo


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Dentre aqueles que se propõem a estudar a medicina é bem comum um sentimento de vislumbre e afeição pelo fenômeno da vida, vendo-a como entidade dotada de força e até uma certa “inteligência”, crescendo e se esforçando para expandir e enraizar-se na nossa realidade. Comigo não é diferente.

A evolução das espécies ao longo dos anos é uma das faces da vida que me encanta particularmente. Já a citei várias vezes aqui para explicar a origem de comportamentos e mesmo sentimentos humanos que estão presentes nos dias de hoje pois, de alguma forma, contribuíram para o nosso sucesso como espécie.

Essa visão sempre me foi muito útil para ampliar o meu entendimento sobre doenças e disrupções nesta força de vida que se dão não pelo “mero acaso”, mas sim por uma mudança de demandas muito além da nossa capacidade de adaptação.

Mudança e adaptação, aliás, são elementos chave para o sucesso evolutivo.

Charles Darwin nos ensinou sobre isso, na sua teoria da evolução das espécies. Nela, enfatiza que a variabilidade de características entre indivíduos da mesma espécie é um processo natural e saudável, pois invariavelmente irá dar ao grupo maior chance de adaptação às demandas do ambiente e, por consequência, maior longevidade e saúde ao longo do tempo.

Longe de ser um processo puramente teórico e distante, a variabilidade como uma expressão da vida com todo seu potencial é vista, por mim, como algo presente no nosso cotidiano. Vamos a um exemplo!

Tem crescido muito o “diagnóstico” das chamadas neurodivergências, ou seja, alterações no desenvolvimento do sistema nervoso levando aos indivíduos assim qualificados a terem uma percepção diferente do mundo, seja no aspecto material (na sua percepção física) ou mesmo psíquico (como entendem as próprias emoções). Existem vários diagnósticos deste grupo, mas o espectro autista é um dos mais observados.

Estes indivíduos, cada qual à sua maneira, percebem o mundo de uma forma diferente e única, o que é muito bom para nós como espécie. As demandas no século XXI são novas e inusitadas e, talvez, a nossa espécie esteja evoluindo assim como tudo o mais. Esta é uma visão particular, mas que me agrada muito: não existem maneiras “certas” de ver o mundo, mas sim, maneiras produtivas e adaptadas.

Como tudo que é novo, novas maneiras de pensar nos parecem estranhas à princípio, por não serem compreendidas bem. Esse comportamento de estranheza mesmo é parte da nossa evolução, nos comportamos assim para fortalecer nossa “noção” de grupo. Daí está a origem do olhar julgador para o que é diferente do “normal” e “comum”.

No entanto, para que sejamos cada vez mais saudáveis como espécie e eficazes no exercício da nossa humanidade, o nosso grupo precisa aumentar e seus limites devem ser “afrouxados” para sermos mais inclusivos com todos. Nosso olhar deve evoluir de algo que “julga" para aquele que “ajuda”. Participantes do espectro com frequência precisam da nossa ajuda para se sentirem seguros em expressar o seu completo potencial de vida e, para nós, é muito bom receber essa contribuição daquilo que é diferente e novo.

Caso o leitor(a) tenha se sensibilizado e se interessado em entender mais desse processo, fico muito feliz e informo que o passo mais importante já está dado: o olhar se voltando em como podemos ajudar o outro e, através disso, fortalecer a própria vida.

Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

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