Professor culto, experiente e dedicado aos seus ensinamentos. Aproveitava cada momento de suas aulas para conduzir seus alunos a buscarem o melhor de si e a darem valor aos estudos. Insistia nas lições de que tudo é parte de ousar e expandir horizontes, e que o futuro não pertencia aos fracos de coração.
Teve a ventura de conhecer várias gerações de alunos, criar raízes efetivas de amizade e estima, de saber as preocupações que os afligiam e seus sonhos de juventude. Todavia, sempre se lembrava do noticiário no Brasil. Será possível? Não desanimava. Buscava energia para continuar sua batalha de lecionar. Dizia que éramos incapazes de sonhar e que tínhamos a necessidade de aprender a pensar. Citava sempre Cecília Meireles: "Não venci todas as vezes que lutei, mas perdi todas as vezes que deixei de lutar."
A vida nos ensina que os que pensam somente no dinheiro geralmente não o ganham. Perdem boas oportunidades de realização pessoal e deixam de acreditar que o dinheiro virá como consequência. Percebia, no entanto, que a maioria dos jovens pautava suas carreiras futuras pelo dinheiro.
Dias destes, o encontrei.
Um pouco mais velho, menos taciturno, mas com uma maior riqueza de conhecimento e cultura. Mantinha ainda a jovem aparência de quem acredita na vida. Convidou-me para um café. Sentamos à mesa. Começamos a conversar. Notei sua expressão de otimismo, com a vantagem de quem nunca abandonou a carruagem da imaginação. Em todos esses anos, agora no outono de sua vida, sentia-se mais confortável em encarar seus sentimentos mais profundos e seus medos não confessados. Gostaria de me confessar algo que tocou profundamente sua vida de professor.
Disse-me, um tanto surpreso e alegre, que ao final de cada ano letivo faz a clássica pergunta aos alunos: "O que desejam ser na vida?" A classe se agitou. Formandos, cheios de esperanças, com uma vida inteira pela frente. A cada resposta deles, ele fazia um comentário de incentivo e perguntava se estavam convictos da escolha. Um a um, os alunos buscavam viver seus sonhos: engenheiro, médico, dentista, advogado, economista, arquiteto, publicitário, veterinário, jornalista, entre tantas outras profissões. Buscavam, no íntimo, o sucesso para uma vida melhor. Viagens, carros, casas na praia, tudo o que o dinheiro pode alcançar pelos prazeres da vida. Eufóricos, não temiam a agonia da escolha, tampouco a solidão da responsabilidade. Foi nesse alegre ambiente escolar de fim de ano, de muita festa, amizade, gritos loucos e abraços e beijos calorosos, que ele encontrou e compreendeu o melhor sentido da vida.
O professor observou, em certo momento, no meio daquele enorme entusiasmo, que, ao fundo da sala de aula, um jovem permanecia sentado e calado. Intrigou-se com o comportamento isolado dos demais colegas. Sabendo-o inteligente e estudioso, jovem de rara criatividade, pediu silêncio à classe e dirigiu-lhe a palavra:
_ E você, meu caro aluno? Seus colegas e eu gostaríamos de ouvir o que deseja ser na vida.
“Professor, eu desejo ser feliz.”
Guaraci Alvarenga é advogado (guaraci.alvarenga@yahoo.com.br)