OPINIÃO

A força da indústria


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O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do segundo trimestre, divulgado na semana passada, avançou 1,4% em relação ao primeiro trimestre, revelando uma economia mais aquecida do que se supunha. O dado motivou revisões para o resultado do PIB do ano. A Fiesp elevou a projeção de crescimento de 2,2% para 2,7%; o mercado financeiro agora estima um avanço entre 2,5% e 3%, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, aposta em um número superior a 2,8%.

Destrinchando os dados, salta aos olhos a força que a indústria de transformação demonstrou neste período. Tanto que a Fiesp revisou para cima a projeção de crescimento do PIB do setor em 2024: passou de 1,5% para 2,5%. A rápida recuperação da atividade industrial no Rio Grande do Sul, depois da tragédia climática que ocorreu entre o fim de abril e o início de maio, é um dos vetores positivos para a estimativa mais otimista.

No segundo trimestre, a indústria de transformação cresceu 1,8%, intensificando a retomada observada no trimestre anterior (+0,9%). Com isso, a alta na primeira metade do ano chegou a 1,9% em relação ao segundo semestre de 2023. Os destaques são o setor de bens de capital e o de bens de consumo.

O setor de bens de capital tem sido beneficiado pelo aumento do crédito e da confiança dos empresários. Em especial, merece menção o excepcional desempenho do segmento de veículos pesados, como ônibus (crescimento de 53,8% em relação ao mesmo período de 2023) e caminhões (avanço de 36,5%), segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

O setor de bens de consumo ganhou tração em função do crescimento da renda e do crédito em um contexto de mercado de trabalho aquecido e crescimento de 11% da massa salarial ampliada. Vale lembrar que o desemprego fechou o segundo trimestre em 6,9% — só de empregos formais, foram gerados 1,4 milhão de postos de trabalho no primeiro semestre do ano, 400 mil a mais que no mesmo período de 2023. Segmentos da linha branca, como fogões e geladeiras, mais sensíveis ao crédito, estão em trajetória de recuperação.

Além disso, a retomada dos investimentos também está beneficiando a indústria de transformação. A formação bruta de capital fixo avançou 2,1% no segundo trimestre e está em terreno positivo desde o quarto trimestre de 2023. A utilização da capacidade instalada da indústria alcançou 83,4% e está acima da média histórica (79,4%), segundo a Sondagem Industrial medida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O cenário para o segundo semestre é menos positivo. A Fiesp espera uma acomodação da atividade econômica do país na segunda metade do ano, com estabilidade do PIB no terceiro trimestre e queda de 0,3% no quarto. Essa projeção decorre do menor impulso fiscal e da manutenção da política monetária restritiva.

A produção industrial de julho, divulgada um dia depois do resultado do PIB, caiu 1,4% (em junho havia avançado 4,3%, conforme dado revisado pelo IBGE). Ainda assim, mostra uma indústria forte: subiu 6,1% em comparação com julho de 2023; nos 12 meses até julho registra alta de 2,2%; e no acumulado de 2024 avançou 3,2%. Vale ressaltar que, finalmente, o setor superou o nível pré-pandemia.

Depois de sete quedas em dez anos, a produção industrial deve terminar o ano no azul. A Fiesp espera um crescimento de 2,2% no indicador. O cenário está mais positivo, mas ainda é desafiador, sobretudo porque o Banco Central pode colocar no radar uma alta nos juros em função do bom momento econômico, mesmo com inacreditáveis taxas, em termos reais, de quase 7%.

Vandermir Francesconi Júnior é 2º vice-presidente do CIESP e 1º diretor secretário da FIESP (vfjunior@terra.com.br)

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