Apesar de ser considerado um dos cem psicólogos mais influentes do século XX, ao citarmos o nome de Paul Ekman, ele dificilmente será reconhecido pelo grande público. Contudo, se comentarmos sobre um filme de animação muito famoso onde as emoções são personagens caricatos que “habitam” os cérebros das pessoas, “comandando” seu comportamento, todos irão sorrir e se lembrar.
Trata-se de um filme realmente muito divertido e Paul Ekman foi um dos consultores técnicos para os produtores. O trabalho deste psicólogo consiste no entendimento da mecânica envolvida na expressão das nossas seis emoções básicas: alegria, tristeza, raiva, nojo, medo e surpresa.
Trata-se de um estudo fascinante sobre a expressão facial como ferramenta para exteriorizar nossas emoções e seu papel na comunicação e formação de grupo social, evento decisivo para nossa sobrevivência como espécie na linha de evolução (Darwin também escreveu sobre isso).
A história de vida de Paul Ekman se mescla na sua escolha profissional e o porquê do seu interesse sobre a expressão das emoções. A sua mãe sofria seriamente de depressão, necessitando de medicações “pesadas” e várias internações por conta de recaídas. Justamente em uma destas internações, após ser avaliada como “equilibrada” por um médico e receber alta, ela infelizmente suicidou-se em casa, com Paul ainda adolescente. Algo terrível.
Sensibilizado pelo problema, Ekman escolheu ser psicólogo para o estudar a mente e suas manifestações. Interessou-se pela expressão das emoções e como seria possível identificar o que uma pessoa realmente está sentindo, a partir das suas expressões faciais. Até então, acreditava-se que a expressividade das emoções era gerida unicamente pela formação cultural de cada um, de forma que esse tipo de previsão não seria fidedigno.
Em outras palavras, caso alguém quisesse esconder o que está sentindo seria impossível descobrir só a observando em busca de sinais e Ekman queria provar isso cientificamente.
Testando vários grupos étnicos-culturais distintos, no entanto, Ekman percebeu que de maneira sutil, mas inegável, as emoções sempre “afloravam” na face e ainda mais: de forma incrivelmente igual para todos! A pesquisa o levou inclusive a um grupo de aborígenes “intocado” pela civilização em Papua-Nova Guiné, com os mesmos resultados: a tristeza e outras emoções básicas têm suas “caras” definidas e idênticas para todos os seres humanos.
O estudo não provou o que Ekman pretendia no início da pesquisa, mas resultou em um sistema para identificar as emoções por trás das palavras, o chamado FACS (Facial Action Coding System).
Conta-se que, então, Ekman reviu as fitas VHS da consulta de liberação da sua mãe, na época do suicídio. As marcas eram claras: ela mentiu sobre suas próprias emoções para conseguir alta da internação e se o médico fosse treinado em FACS, uma tragédia poderia ter sido evitada.
Este mês no Brasil é o “setembro amarelo”, trazendo a conscientização e prevenção do suicídio. Desejo e trabalho para que a incrível história sobre Paul Ekman inspire a todos o básico desta prevenção: olhemo-nos com empatia. Com atenção. “Escutem” os canais de comunicação silenciosos para que o pedido de ajuda de alguém, feito nas entrelinhas, seja ouvido e acolhido.
Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina tradicional chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)
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