Considero-me privilegiado de, ao longo da minha carreira médica, atender clientes imersos em outras culturas, sejam eles brasileiros que se fixaram em outros países ou alguns estrangeiros que chegam até mim por indicação dos primeiros.
Na variedade de pensamento que pude experimentar pela minha singela imersão cultural, observei que o brasileiro tem um diferencial de ser bem aberto à uma modificação no estilo de vida para o tratamento e prevenção de doenças, em um ponto inusitado: na sua dieta. No fim de uma consulta com frequência vem a pergunta: “Doutor, tem algo que eu possa comer que possa ajudar?”
Talvez isso ocorra pela nossa herança familiar, onde a origem de vários tratamentos de doenças mais simples e “domésticas” eram as cozinhas das nossas matriarcas e não as farmácias. Desde canjas para resfriados, emplastos e tinturas para unguentos, sem esquecer a tradição das garrafadas, muito presente no norte e nordeste do país, o brasileiro se sente confortável de colocar no cardápio elementos que devem ser consumidos porque fazem bem e podem curar mais rapidamente uma variedade de condições.
Isso me levou a estudar um pouco de dietoterapia, tanto do ponto de vista contemporâneo ocidental quanto pela ótica da medicina tradicional chinesa, para melhor orientar essas demandas. Surpreendeu-me a aderência às orientações bem como a sua eficácia. Os pacientes adoram uma “receitinha”!
Aqui, no entanto, gostaria de passar uma receita diferente do comum: vamos ampliar o conceito de dieta? Dieta não é somente o que colocamos na mesa, mas de tudo que consumimos. Tudo o que oferecemos para o nosso corpo para satisfazê-lo: música, leitura, informação (de mídias sociais, por exemplo) e, claro, tempo de lazer e exercícios.
O exercício, tal como um xarope amargo para tosse, não é algo imediatamente prazeroso para se absorver, porém os benefícios na saúde logo após compensam o breve e ilusório sacrifício.
Digo “breve” pois, para alguns casos, o próprio ato de focar em um objetivo com toda a corporeidade já é um lenitivo de ação imediata. Esse é o caso do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), tão comum de ser diagnosticado nos dias de hoje.
A maioria dos seus casos podem ter um controle mais rápido e simples oferecendo ao portador, normalmente uma criança agitada, o contato com sensações mais reais, simples e “planas”, adquiridas através das vias de percepção do tato e do corpo. Essas sensações devem envolver esforço, produzir fadiga (que é também um tipo de percepção corporal), bem como dar a sensação de recompensa, cobrando para isso habilidade e concentração na execução.
O exercício cumpre todos esses quesitos, com louvor. Não me refiro, naturalmente, ao ambiente controlado de uma academia urbana, mas às atividades mais lúdicas, ao ar livre (variedade de estímulo, lembra?) subindo em árvores, cordas para pular, puxar no “cabo de guerra”, caminhar sobre ela como se fosse suspensa, são só alguns exemplos de treinos de mobilidade, força, coordenação e equilíbrio.
Então, com a mesma avidez que meus clientes abrem as portas da mente para ajustes na dieta alimentar, sugiro que ampliemos o nosso repertório para aceitar não somente o que é prazeroso, mas também aquilo que nos faz bem.
Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)
Comentários
1 Comentários
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Maria Amélia D. Costa 17/08/2024Muito interessante gostei do conceito amplo de dieta nunca havia pensado por este ângulo. E tem todo sentido, uma vez que nosso corpo não necessita só de uma boa alimentação! E o fato de não restringir exercícios a academia, mesmo porque pular corda, andar de bicicleta, dentre tantas outras atividades também “nutrem” nosso corpo e talvez soem melhor aos nossos sentidos . Eu pelo menos não gosto de academia. Parabéns doutor! ??