OPINIÃO

“Uma Igreja Sinodal em Missão”


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O Sínodo para a sinodalidade (2021-2024), convocado pelo Papa Francisco, traz em seu relatório de síntese o título “Uma Igreja Sinodal em Missão”. O Sumo Pontífice, movido pelo Espírito Santo, à luz da tradição da Igreja e seguindo os passos do Concílio Vaticano II nos orienta a sempre voltarmos às origens da fé.

A Igreja sinodal e missionária, peregrina no século XXI, tem diante de si a realidade de um mundo tecida em ambiente digital. O Espírito Santo nunca abandonou a Igreja e a faz dialogar com a modernidade e sua razão. A Igreja sinodal e missionaria do século XXI, iluminada pelo Espírito Santo, reflete sobre o “ambiente digital” reconhecendo: “A cultura digital representa uma mudança fundamental no modo como concebemos a realidade e nos relacionamos conosco mesmos, entre nós, com o ambiente que nos rodeia e também com Deus.

O ambiente digital modifica os nossos processos de aprendizagem, a percepção do tempo, do espaço, do corpo, das relações interpessoais e todo o nosso modo de pensar. O dualismo entre real e virtual não descreve adequadamente as realidades e a experiência de todos nós, sobretudo dos mais jovens, os chamados ‘nativos digitais’” (Uma Igreja Sinodal em Missão. Relatório do Sínodo, parte III, 17a).

À luz do Magistério, compreendemos que, nesse atual contexto histórico, o Espírito Santo nos inspira a sermos missionários no ambiente digital. Precisamos discernir os fenômenos recentes do cristianismo, à luz da tradição da Igreja. A Igreja, quando permeada pelo “ambiente digital”, vê-se diante do recente fenômeno dos denominados “influenciadores digitais católicos”. Primeiramente, devemos saber que o termo “influenciador” nasce com o advento da internet e a utilização desta pela estrutura do capital e do merca mercado. Esse fenômeno promove determinadas pessoas que, ao adotarem certos produtos e suas marcas, tornar- -se-ão representantes destas, “influenciando” outras pessoas.

Os jovens iniciados na cultura digital são os mais influenciáveis a consumirem seus produtos e ideias e, por isso, foram os primeiros a validar e potencializar essa prática. Hoje, o ambiente digital está povoado de influenciadores que vendem moda, perfumes, estilos de vida, consultoria sentimental, consultoria espiritual, etc. Seus objetivos e pretensões se misturam desmesuradamente aos interesses mercadológicos, numa confusão nem sempre proposital, mas ainda assim refém das inúmeras consequências do multiverso virtual.

Essa mescla de interesses interesses alheia a qualquer verificação normativa, magisterial ou teológica pode se distanciar da proposta do Evangelho, assim, os conteúdos dos influenciadores digitais católicos parecem, em algumas ocasiões, trilhar caminhos solitários que, não raramente, desembocam em individualismo e promoção pessoal. O Espírito Santo nos conclama à sabedoria de uma purificação.

Não se trata de silenciá- -los, mas examinar as obras e os frutos promovidos por essa prática. O mandato de Jesus não é para influenciar, mas para evangelizar. A Igreja que, pelo Espírito Santo, anuncia o Evangelho no ambiente digital, também é chamada a estabelecer o critério da evangelização à luz do Cristo. Um cristianismo excessivamente midiatizado, virtualizado, tecido na lógica da emoção e dos algoritmos, pode, de fato, nos inserir no século XXI, marcado por uma profunda uma crise de fé? O Espírito Santo de Deus há de nos iluminar diante desse desafio, como sempre fez na história da humanidade.

Sejamos missionários nessa grande seara das redes sociais, sigamos os passos daquele que nos conduz pelas trilhas da verdade, mesmo que em tempos sinuosos. Anunciar é muito mais que influenciar! Sejamos discípulos que escutam o Mestre! Ouçamos o clamor e os rumos que o Espírito quer dar à Igreja. E, sobretudo, ofereçamos o nosso sim ao chamado que a missão exige.

DOM ARNALDO CARVALHEIRO NETO é Bispo Diocesano de Jundiaí (verboadm@dj.org.br)

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