O conceito de “problema" muda um pouco quando se pensa filosoficamente. Diversamente do que estamos acostumados a pensar, o problema não é um obstáculo, um “enrosco” que atrapalha a nossa linha de raciocínio e atravanca a nossa vida.
O problema, sob essa ótica, significa uma situação que possui alternativas para ser vista, ou seja, algo que pode ser entendido de diferentes maneiras, levando geralmente para visões alternativas ou soluções inusitadas.
Um problema que frequentemente se apresenta para mim, na minha prática dentro do meu consultório, são pacientes que possuem queixas e sintomas muito maiores do que as lesões que podem ser diagnosticadas com exames de sangue ou imagem.
Como exemplo, aquela jovem que apresenta o sintoma de queimação estomacal e sensação de refluxo de forma tão intensa, que, por vezes, chega a ficar pálida e com as mãos frias quando em crise. Toma dois ou três remédios clássicos para o tratamento com pouca ou nenhuma melhora.
Ao consultar um especialista é indicado uma endoscopia, que é um exame que permite o diagnóstico de inflamações e ferimentos na parte interna do estômago, certo de que ele irá mostrar uma extensa e profunda lesão, ao qual chamamos de úlcera, mas, para o assombro de todos… mostra apenas uma inflamação superficial e leve.
Normalmente, nesta hora, minha especialidade é lembrada e indicada.
A visão holística da medicina tradicional chinesa, no qual é baseada a acupuntura, procura solucionar o problema abrindo o seu foco de atenção fornecendo “um corpo” , uma estrutura que é depositária de elementos atuantes no indivíduo, mas que não são perceptíveis aos nossos meios atuais de diagnóstico laboratorial.
Desta maneira, por esse modelo filosófico e terapêutico milenar, temos vários corpos que se encontram interligados por uma grade energética de onde fluem as nossas intenções vindas da nossa própria essência e cristalizam as emoções e racionalidades que delas decorrem.
O corpo físico daquela jovem do nosso exemplo não possui marcas que justifiquem tanta dor, mas é porque o foco principal se encontra no meridiano do estômago (segundo o nosso linguajar técnico) que se contaminou com sentimento de revolta e contrariedade, vindos de um fato ocorrido na vida dela, digamos, quando teve que se retrair sem se defender de uma acusação injusta no seu trabalho.
Supostamente, ela o fez por medo de perder o emprego caso respondesse da maneira que desejava, mas ser alvo e um “bode expiatório” de outras pessoas é algo que ela “nunca engoliu”. Isso fica manifesto no terreno sutil dos seus centros energéticos e, quando ela entra em contato com situações que podem colocá-la na mesma posição do trauma, essa energia se põe em movimento e piora muito a sensação de uma lesão modesta, como que dizendo para todo o sistema: “não deixe que eles façam isso com você de novo!”
Claro que, se não se cuidar e liberar essa energia de uma forma saudável, a lesão física irá acompanhar a extensão e profundidade da lesão energética, que veio antes e é mais intensa. O tratamento consiste, então, não somente em focar no corpo físico, mas movimentar o energético e deixar a dor partir.
Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)