Vamos a um exercício? Imaginem uma donzela ou mesmo uma princesa, resplandecente de energia feminina, jovem e prestes a se tornar uma verdadeira rainha. Aposto que a maioria de vocês imaginou uma jovem com cabelos longos e soltos que escorrem como uma cascata pelos ombros. Caso sua imagem varie no comprimento ou no caimento, insisto no meu exercício divinatório e sugiro que vocês visualizaram mechas brilhantes, viçosas e com fios grossos, ainda que não densos, lindamente integrados na aura de majestade que compõe a monarca.
Com isso quero despertar-lhes o fato de que todos nós, intuitivamente, relacionamos os cabelos como marcadores de boa saúde e abundância, tanto de energia quanto de nutrição corporal e, portanto, também os associamos com boa estética e beleza.
A teoria da medicina tradicional chinesa corrobora com essa intuição, visto a sua preocupação na análise desse elemento, considerado anexo da nossa pele e do próprio sangue, para a avaliação da boa saúde da partição mais yin do organismo. Inclusive entre os medicamentos mais tradicionais, feitos de infusões de várias ervas, há um que é específico para o antienvelhecimento cujo o nome é Qi Bao Mei Ran Dan , cuja tradução do nome para o português é algo como "pílula das oito ervas que embelezam o cabelo".
Sim, cabelos saudáveis são uma marca de jovialidade.
Modernamente, muitos estudos vão no mesmo sentido e ainda levam a teoria mais a fundo, considerando que os cabelos, tal como os pelos, auxiliam a pele enquanto órgão na sua função de proteção contra elementos agressivos do meio ambiente, implementando uma barreira e gerando separação. Do mesmo modo, quando há uma demanda para que determinado setor de pele fique mais sensível e exposto ao contato, como que buscando o toque e um incremento sensorial, a tendência é que este setor de pele fique sem cabelos, formando uma "clareira" em meio à "floresta" capilar.
O quadro resultante é o que chamamos de alopecia areata, considerada uma doença sem causa específica na medicina contemporânea, por vezes impactando seriamente a estética do seu portador. Energeticamente trata-se de uma região do "envoltório" do indivíduo que se mostra vulnerável, abrigando uma vibração caótica e anômala que impede a nutrição do folículo piloso, derrubando o fio de cabelo pela raiz, criando um espaço ainda mais frágil e sensível para que a vibração adversa lá se fixe ainda mais.
O tratamento consiste em restabelecer a circulação nos meridianos que passam pela região afetada, limpando-os e expulsando a energia caótica que os poluem, tal como quem limpa o fundo do leito de um rio para que mais água pura flua na região.
Além do trabalho com acupuntura e fitoterapia, cabe procurar compreender qual o significado simbólico atrelado à região da cabeça escolhida como "alvo" para uma área de devastação. Por vezes regiões próximas à fronte, na franja, têm a ver com a necessidade premente de carinho, afago e reconhecimento por parte de figuras maternais (não é neste local que geralmente mães ajeitam os cabelos de seus filhos e filhas?)
Conhecendo a demanda, um tratamento de ressignificação psicológica de fatos pode enfraquecer os sintomas e acelerar o restabelecimento do local desprotegido.
Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina tradicional chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)