NICHADOS

Livros brasileiros são raros lá fora

Segundo estrangeiros, literatura do Brasil é pouco consumida, pois, apesar do sucesso internacional, clássicos não chegam ao leitor

Por Letícia Malatesta | 07/04/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Divulgação

Clássicos fizeram sucesso internacional, mas não chegam ao leitor
Clássicos fizeram sucesso internacional, mas não chegam ao leitor

Os brasileiros possuem costume de ler livros de autores estrangeiros, como mostra a pesquisa da Amazon sobre os livros mais vendidos em 2023. Mas e o contrário? Livros brasileiros são best-sellers?

A história da literatura brasileira se iniciou em 1500, com a chegada dos portugueses no Brasil, isso porque as sociedades que aqui estavam eram ágrafas, ou seja, não possuíam uma representação escrita, mas só em 1886 um livro brasileiro, "Iracema: lenda do Ceará", foi traduzido para outra língua (língua inglesa), 20 anos após a publicação.

Depois de "Iracema", grandes títulos brasileiros de autores como Machado de Assis, Paulo Coelho, Rachel de Queiroz, Jorge Amado e Clarice Lispector, foram traduzidos e viraram sucesso internacionais. Como é o caso de "O Alquimista", de Paulo Coelho. Originalmente publicado em 1988, a obra é o livro brasileiro mais traduzido do mundo e, segundo a Agence France-Presse (AFP), já vendeu mais de 150 milhões de cópias ao redor do mundo.

Porém, atualmente a literatura brasileira se tornou algo raro em alguns países, como relatam brasileiros que moram no exterior. Mateus Cremasco Quesada, jundiaiense de 19 anos, atualmente mora nos Estados Unidos e estuda Relações Internacionais na Soka University of America. O estudante relata ter pouco contato com a literatura brasileira dentro da universidade e que os livros brasileiros não são desejados pelos estadunidenses.

"O livro 'Vidas Secas' fez parte da aula 'Introduction to Latin American Studies', onde aprendemos sobre a história e a política da America Latina. Estávamos falando sobre o Nordeste brasileiro, o professor passou algumas leituras e alguns vídeos e o livro 'Vidas Secas' acabou sendo mencionado. Os autores brasileiros não são nem um pouco cobiçados, as pessoas em geral não possuem conhecimento da literatura brasileira. Alguns professores com que tive aula sabiam da existência de alguns autores e acho que eles leram alguns exemplares, mas ou eles eram sulamericanos ou tinham interesse na América do Sul/Brasil, então o público que consume os livros brasileiros é um público acadêmico bastante nichado."

Mateus anseia por uma mudança. "Acreditamos ser uma adição importante pro acervo e também por que queremos que mais pessoas conheçam essas obras. E uma das únicas formas de continuar consumindo literatura brasileira, aqui, seria ter trazido livros do Brasil ou comprar de maneira online", completa.

Liz Alves, jundiaiense de 18 anos, que mora também nos Estados Unidos, sofre do mesmo problema. "É difícil achar até online e quando acha é extremamente caro. Um livro 'americano' custa em torno de $10 a $15, já um brasileiro de $50 a $80. Eu, infelizmente, não trouxe muitos livros e me arrependo."

Clara Gomes, paulista, 21, estuda Letras na Temple University, nos EUA, e relata como o contato com a literatura brasileira pode ser raro por lá. "Eu tive a rara oportunidade de ler muitas obras brasileiras e teorias literárias. Foi na faculdade, mas em uma matéria muito específica e que é oferecida raramente, depende do número de alunos interessados. O tema da aula era literatura brasileira e pude ler Machado de Assis, Jorge Amado, Carolina Maria de Jesus, Clarice Lispector, Antônio Candido e Augusto de Campos."

FOMENTO

O governo lançou em 2023 um programa que incentiva a publicação de livros brasileiros no exterior. A iniciativa se dá pela Biblioteca Nacional, ligada ao Ministério da Cultura.

O Programa de Apoio à Tradução e à Publicação de Autores Brasileiros no Exterior foi lançado pela 1ª vez em 1991 e recebe apoio financeiro do Ministério das Relações Exteriores e do Fundo Nacional de Cultura. A iniciativa ajudou a traduzir mais de 1.200 obras para 45 idiomas.

A ação ajudou a internacionalizar obras de autores como Machado de Assis e Clarice Lispector. As obras mais traduzidas foram "Dom Casmurro", "Memórias Póstumas de Brás Cubas" e "A hora da estrela".

O Ministério da Cultura foi extinto durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e recriada por Margareth Menezes na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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