OPINIÃO

Exercício e suas lições


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Em 2008, com quase dez anos de formação médica e em pleno exercício da minha especialidade, a acupuntura, resolvi iniciar uma pós-graduação em fisiologia do exercício. Algo insólito e um tanto desconexo, quando visto da maneira que coloquei agora. Como isso se encaixava na minha prática? Como iria utilizar esse conhecimento?

Uma boa explicação pode ser encontrada no próprio nome da matéria, mostrando ser o estudo do funcionamento normal do organismo (eis o conceito de fisiologia) sobre uma condição específica (o exercício). Essa singela análise já indica que o exercício pode impulsionar o nosso corpo físico, parte integrante do nosso ser, para um novo patamar de funcionamento, diferente da fisiologia "normal" e que, ainda por cima, essa nova condição obtida é normal (fisiológica) e por isso sustentável.

Essa capacidade de se modificar, criar perspectivas de desenvolvimento no campo da saúde, comportamento e em outros mais já era percebido por mim naquela época, devido ao meu trabalho com acupuntura. Comecei a crer, então, que o exercício seria uma técnica que poderia ser aplicada com sucesso para o mesmo fim e que precisaria conhecer mais a fundo seus efeitos para poder utilizá-lo tal como um remédio, indicando dose, frequência e tudo mais.

Por ser uma ferramenta natural e ao alcance de todos, a prática da atividade física e o exercício tem sua utilidade muito ampla, rápida, eficaz e quase sem contraindicações. Apesar deste perfil muito promissor, com frequência é subutilizada, por puro desconhecimento da sua potencialidade por terapeutas e pacientes.

A saúde mental, por exemplo, é um campo de grande aplicabilidade. Uma realidade facilmente verificável é que o número de adolescentes e jovens que estão apresentando distúrbios mentais importantes, em especial a depressão, é crescente. Em parte, isso ocorre pelo mundo desproporcionalmente informatizado em relação a quantidade de calor humano e empatia que deveria ter.

A atração para o meio eletrônico é intensa pois promove prazer instantâneo e de fácil acesso, trazendo consigo o efeito colateral do sedentarismo e, com ele, um corpo que lida muito mal com desafios, com dificuldades e falta de resiliência.

Uma verdade cientificamente comprovada que o exercício melhora níveis hormonais e da química cerebral capaz de evitar e mesmo tratar a depressão, mas, para além deste aspecto, o exercício ensina a achar conforto na dificuldade e lidar com a incapacidade momentânea (quando tentamos levantar um peso e simplesmente não conseguimos) para treinar e ficar melhor, conquistando uma condição melhor (ao bater um recorde finalmente levantando o peso outrora vencido).

Associar a vitória depois de um período de desempenho sem o retorno imediato ensina a cultivar a conquista a médio e longo prazo, tratando-se de um benefício psicológico do exercício de fundamental importância para o tratamento da depressão e de outras patologias, no geral.

Exercício sempre trará benefícios, sejam eles pelos ganhos fisiológicos, sejam pelas lições que sua prática proporciona

Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina tradicional chinesa e osteopatia  (xan.martin@gmail.com)

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