OPINIÃO

De que valeria nossa fé?

31/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Mais importante para a humanidade do que o próprio Natal, a Ressurreição de Cristo. É natural que a simbologia do nascimento de uma criança em manjedoura, filho de pais pobres, mas cumpridores de seus deveres - tanto que atendiam à ordem do recenseamento geral - traga significados que mitiguem as agruras da vida cotidiana.

Daí o presépio, invenção de Francisco de Assis - o homem do milênio, conforme proclamado no século passado - e que se propaga pelos lares, tornando-se categoria de arte muito prestigiada. Coleções de magníficas encenações do nascimento de Jesus espalham-se por todo o Velho Continente e atraem a admiração de crentes e de não crentes.

Mas de que valeria a nossa fé, sem a Ressurreição do Senhor?

Foi o que São Paulo, o Apóstolo dos Gentios, que não conheceu Jesus na sua vida terrena, afirmou em suas Epístolas. Vã seria a nossa fé sem o ressurgimento do Salvador.

Ele havia prometido ressurgir dentre os mortos. As parábolas O comparam com o templo, que os discípulos identificaram no portentoso monumento erguido por Salomão. Na verdade, Ele falava do "templo vivo" que era Seu corpo.

A morte é um castigo doloroso. Perverso, não poupa ninguém. O mais poderoso dentre os humanos vai morrer. Tenha o patrimônio que tiver, seja célebre ou não. Amado ou odiado. O seu encontro com a ceifadeira das existências, com aquela que é a mais democrática dentre as ocorrências - a Morte - acontecerá.

Por isso o privilégio dos cristãos. Seu Deus ressuscitou. Ao terceiro dia, deixou o sepulcro e foi visto pelas mulheres que estavam em visita ao túmulo. Em seguida, apareceu para os seus dois discípulos em Emaús. E esteve com toda a sua Igreja particular, a Mãe e os apóstolos, quando estavam recolhidos e ainda temerosos. Haviam assistido ao suplício, ao martírio, ao sacrifício supremo Daquele que era Deus. Os homens tiveram a coragem de assassinar um Deus. O que não fariam com reles semelhantes, Dele seguidores?

Foi então que, mais uma vez, Tomé representou a fragilidade da crença humana. Evidenciou a dúvida. Cristo o fez tocar Suas chagas. Só então Tomé pronunciou: "Meu Senhor e Meu Deus!".

A base racional do Cristianismo é a convicção de que Jesus Cristo venceu a morte. Sem isso, por que professar uma fé? Apenas como engodo à realidade inevitável de que apodreceremos, seremos consumidos pelos vermes, restarão apenas ossos e, mais tarde, nem isso? Ou nos entregaremos ao rito da pirólise, convertidos de imediato em cinza, para fazer cumprir o "és pó e ao pó retornareis"?

A Ressurreição do Senhor é o ápice do ideário cristão. É nela que se pode agarrar nos momentos de fragilidade. A certeza de que o corpo, carcaça imperfeita e perecível, é destinado à extinção. Mas a alma imortal, esse repositório de angústias, mas de sonhos, de sofrimento, mas de esperança, está destinada a permanecer e a experimentar outros estágios, preservada a individualidade do espírito.

Mais ainda: haverá no etéreo um outro corpo, menos imperfeito do que o nosso. Afinal, o céu tem pelo menos dois corpos físicos: o de Jesus e o de Nossa Senhora, que à morada eterna chegou íntegra. Ascensão e assunção merecem nossa reflexão. Menos preocupação com ovos de chocolate e com bacalhau, mais consciência sobre o que significa ser cristão e assumir-se como integrante da Cristandade.

Boa Páscoa a todos!

José Renato Nalini é reitor, docente de pós-graduação e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo (jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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