OPINIÃO

Vícios e disfunção erétil

22/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Tudo na vida tem um lado positivo e um viés negativo. A tecnologia, na área da comunicação, transformou a sociedade disponibilizando informação de maneira rápida, eficaz e com baixo custo. Sabemos bem que um único aparelho de celular com câmera e acesso a Internet pode iniciar uma revolução, temos exemplos históricos disso.

O lado negativo deste quadro está justamente em nos desafiar com algo que não tivemos que lidar nos milênios anteriores: o excesso de informação. Essa vem em uma quantidade tão torrencial que é humanamente impossível verificar a sua procedência, organizá-la ou controlar seu uso e consequências, mesmo a curto prazo.

Uma faceta desse processo afeta algo inesperado: vários homens jovens, sem doenças graves se encontram em dificuldade de ter uma vida sexual saudável dada a essa exposição midiática.

Cerca de 90% da população masculina tem contato com mídias pornográficas antes dos dezoito anos, período de desenvolvimento da maior zona erógena do seu corpo: a sua mente. O desenvolvimento energético responsável pela adolescência ocorre de forma mais tardia no masculino (aos 16 anos, seguindo ciclos de oito anos) quando comparado ao feminino (segue ciclos de sete anos), de tal forma que um garoto de 14 ou 15 anos tem um imaginário muito mais afim com o mundo infantil do que com o adulto.

A mídia pornográfica, pelo seu status de tabu, é facilmente marginalizada dos olhares mais criteriosos e acaba com isso flertando muito de perto com o encenar de comportamentos abusivos e mesmo doentios, para não falar de várias formas de crime.

Cérebros que não tiveram tempo para se desenvolverem adequadamente são expostos a esse cenário e se excitam, repetidamente, com cenas que são no mínimo fantasiosas, caricatas e irreais. Atores e atrizes realizam um show de entretenimento que em nada tem a ver com o relacionamento entre parceiros na vida real. Falta empatia com o próximo, comunicação em gestos e toques absolutamente essenciais para que uma linguagem sem palavras transforme aqueles momentos íntimos em únicos e inesquecíveis. Sem isso, sexo se torna performático, banal e mesmo egoísta.

No entanto, o prazer que se obtém com estes estímulos, várias vezes no dia, vários dias nas semanas, forma e reforça redes neurais, como qualquer forma de vício (sim, pornografia pode viciar tal como droga) focando seu usuário em obter a satisfação plena somente com o que se acostumou a apreciar, mas que jamais irá encontrar no seu próprio mundo.

Diante de uma realidade muito distante da expectativa, o jovem na casa dos vinte e poucos anos se depara com a ansiedade, frustração, desespero e, finalmente, depressão por não conseguir "funcionar" de uma maneira que acredita ser natural e normal, sem perceber que se deixou enganar pelo fácil e conveniente acesso que possui.

Perdem os homens, que desenvolvem doenças físicas que não respondem a remédios comuns, somente à tratamentos de desintoxicação cerebral. Perdem os parceiros(as) que não encontram quem os trate de forma amorosa, íntegra e integral. Perde a sociedade, enfraquecida pela ação de um vício que se infiltra sorrateiro na mente ingênua.

Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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