OPINIÃO

Folia com sabedoria

09/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Algumas pessoas se impressionam quando recomendo que elas brinquem e se divirtam no carnaval; isso porque a imagem de um médico está associada com seriedade, retidão e austeridade, sendo essas partes importantes inclusive na minha apresentação do cotidiano. Com uma imagem assim, normalmente se espera conselhos de cautela e moderação, daí o contraste que gera o espanto.

O carnaval é um festejo onde as rígidas regras sociais têm sua atuação "afrouxada", permitindo que as pessoas vivam suas fantasias, ousem e se apresentem de uma forma mais relaxada sem maiores "consequências" por isso, livres de críticas e julgamentos.

Neste período de duração acordada de alguns dias, permite-se que o mecânico de automóveis se torne um astronauta, que donos de vendas e negócios se tornem reis e tenham em seu cortejo belas (outrora desconhecidas) rainhas e outros elementos da corte. Isso tudo com um clima lúdico e bem pueril (talvez daí o termo "brincar" para quando se vive essa alegoria).

Parece Insólito, mas o ato de se permitir sair do papel que está acostumado em todos os outros dias do ano é justamente o fio condutor que traz energia nova, vinda de uma área dentro de nós que temos pouco contato: o nosso inconsciente, ou, como chamavam as antigas tradições, a nossa "sombra".

Normalmente nós vivemos muito bem realizando somente uma parte do nosso potencial, aquela que se apresenta mais cômoda e socialmente aceitável. Caso consigamos "ganhar a vida" com esse exercício, pouco interessamo-nos em expandir nosso conhecimento para o que é estranho, esquisito ou mesmo que sabemos que seria passível de crítica pelo nosso meio.

Contudo, quando um conteúdo que possuímos se encontra "entre as sombras" não significa que ela seja "ruim". Esse tipo de preconceito já é uma forma de julgamento, não é verdade? Estar momentaneamente oculto significa que, em algum momento, o conteúdo foi incompreendido e não sabíamos como ele poderia "se encaixar" na nossa vida.

Claro que essa condição não é definitiva. Nós crescemos e amadurecemos, mudamos de ponto de vista e por isso temos a possibilidade de dominar aquilo que antes nem reconhecíamos como algo genuinamente nosso.

Optar por não olhar o oculto acaba por gerar tensões psíquicas vindas do fato de se possuir algo que sabemos ser de valor, mas que deliberadamente ignoramos. Podem surgir, "inexplicavelmente", ansiedades e angústias, vindas de uma sensação de insatisfação e da busca pelo indefinido.

Calma! Nem tudo está perdido! O Carnaval chegou!

Neste período, ninguém vai lhe criticar se a sua roupa não combina (nem mesmo você o fará) ou chamar a sua atenção se você fala "meio enrolado" e dança "meio errado" tentando ser outro alguém. Esse é um festejo que é palco para o inesperado, o inusitado e quem sabe… o começo de um comportamento para fazer parte do seu "novo normal".

Caso nada do que foi manifesto tenha encontrado seu lugar na luz, novamente sem problemas e sem críticas! Terminaremos o "cortejo do rei momo" mais relaxados, livres de tensões e prontos para seguirmos nossas vidas de maneira mais leve.

Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina tradicional chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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