OPINIÃO

Subsistência ou exportação?

17/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Está acontecendo a Copa São Paulo de Futebol Jr, com aproximadamente 3500 atletas de 128 times disputando um torneio "tiro-rápido" pelo Interior do Estado. E repare: embora possam jogar atletas de até 21 anos, a média de idade caiu bastante. E qual seria o motivo?

Hoje, um jogador de 20 anos já é "velho" para o Mercado Europeu. O garoto já adquiriu "vícios de jogo" e pela oferta excessiva de atletas, torna-se dispensável. Pudera, cada vez mais os jovens são lançados precocemente em suas equipes profissionais.

Aqui cairemos em dois dilemas envolvendo a "Galinha de Ovos de Ouro" de todo time profissional: ter a "base" como "criação de talentos", a fim de ganhar dinheiro para exportá-los (sem a preocupação de que eles joguem no time principal) ou formar atletas para suprir as necessidades do profissional? E, claro, torna-se óbvio: TODO time deve ter sobre seu comando as categorias de base, sem terceirizá-las, pois isso significa perder dinheiro.

Exemplo de subsistência? O Santos FC, quando Leão era o treinador, foi Campeão Brasileiro usando Diego e Robinho, trazidos da base pois o Peixe, literalmente, não tinha jogador para colocar no time. E até hoje, por conta de dificuldades financeiras, o time se socorre aos "Meninos da Vila".

Por outro lado, o São Paulo FC tem uma "fábrica de jogadores" em Cotia. Quantos garotos que o torcedor são-paulino desconhece ter passado por lá, e que estão jogando na Europa, dos pequenos aos grandes centros do futebol? E apesar de todo o dinheiro que entra, ainda há dificuldades financeiras... Entretanto, veja o quanto de dinheiro isso rende futuramente, por via indireta: Casemiro e Antony, transferidos para a Inglaterra, ainda encheram os cofres do Tricolor com as verbas de "clube-formador".

Os exemplos perfeitos tornaram-se Flamengo e Palmeiras: o Rubro Negro vendeu Reinier, Lincoln e Vinícius Jr, ainda muito jovens, e com as contas equilibradas, desfruta desses valores para novos e ousados investimentos. Idem ao Verdão, que tem um trabalho excepcional na base, com Endrick vendido a quase meio bilhão de reais.

Tudo isso ocorre por alguns fatores: a Globalização e a Economia são os principais!

Com os jogadores europeus integrando a comunidade europeia e "quebrando barreiras geográficas", há mais vagas para jogadores de fora do continente, diferente de anos atrás, onde os times da Europa buscavam craques formados para chegarem e serem titulares absolutos: Zico e Sócrates, por exemplo. Depois começou a aposta em talentos que surgiam nas equipes profissionais, e, hoje, diferentemente, buscam "meninos ao pé-da-letra" para serem formandos em suas categorias de base, contratando-os antes do primeiro vinculo profissional, e aí usando artifícios para que possam residir na Europa (por exemplo: contratando os pais para trabalharem no clube em alguma atividade qualquer, apenas para sairem do país).

E como ganhar dinheiro com esses garotos?

Fazendo como fazem Palmeiras e Flamengo: cuidando bem desses jovens na base, a fim de que assinem o primeiro contrato profissional, e de tal forma possam ser vendidos e render muito dinheiro para os clubes.

Por fim: os estrangeiros não querem mais craques prontos; então, saibamos garimpar talentos para vendê-los aos interessados, não permitindo que seja um neocolonialismo da Europa na América do Sul e na África, mas sim uma relação inteligente e financeiramente viável a todos. É por isso que estão surgindo milhares de times-empresas pequenos, focados em categorias-de-base (sem a preocupação de ter equipe profissional), disputando torneios sérios e com gestão empresarial invejável. E isso é uma tendência irreversível.

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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