OPINIÃO

O futebol europeu e o sul-americano

03/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Todos nós estamos acompanhando como o futebol brasileiro regrediu nos últimos anos. Seja em relação aos clubes europeus, seja em relação às Seleções de fora, o fato é: a nata do esporte bretão está espalhada na Europa, especialmente na Inglaterra. E a América do Sul ficou muito para trás, vendo até mesmo Ásia, África e América Central e do Norte crescerem.

Mas como isso foi acontecer?

Até o final dos anos 90, os grandes clubes sul-americanos se equivaliam em condição técnica aos grandes clubes europeus. Em questão econômica, não, pois as agremiações já se tornavam empresas.

No início dos anos 2000, com o advento da Globalização (da forma como ela é hoje), o mundo foi se descobrindo cada vez mais. As distâncias diminuíram e os jogos de toda a parte do planeta passaram a ser vistos. Os melhores jogadores de cada clube fora do eixo europeu passaram a ser contratados. Com isso, ingleses, espanhóis, alemães, franceses e italianos dividiam espaços com outras nacionalidades.

Nesse período, bem ou mal, vimos os últimos títulos do Mundial de Clubes ficarem na mão de brasileiros: o São Paulo contra o Liverpool, o Internacional contra o Barcelona e o Corinthians contra o Chelsea (e isso ainda ocorreu graças à atuação espetacular dos goleiros Rogério Ceni, Clemer e Cássio).

Onde foi a "virada de chave" definitiva?

Com a Internet e a captação de jovens talentos estrangeiros.

A Web permitiu que todas as categorias de base também fossem vistas, bem como os clubes do Interior mais escondidos. Os garotos passaram a ser levados de maneira mais barata, moldados aos treinos táticos europeus, permitindo que os clubes ricos comprassem o "pé-de-obra direto da fonte".

Veja a Seleção da Alemanha: há atletas de vários continentes! A França de 1986 era um time branco-cristão e hoje se tornou multi-étnico árabe. Tudo mudou lá fora, e nós paramos (sem os jovens vendidos precocemente e muito menos com os euros do Velho Continente).

Com essa miscigenação, atletas africanos e asiáticos começaram a levar conhecimento aos seus selecionados, e o intercâmbio se tornou frutífero: isso explica a evolução dos outros continentes. E, sendo assim, o que restou aos clubes de futebol brasileiros? A "sobra" do que os europeus não querem.

Vejam só quantos venezuelanos, argentinos, uruguaios e demais atletas vizinhos, que não vingaram na Europa, mas que servem aos times daqui. Eles não tiveram espaço pela falta de qualidade no futebol em alto nível, mas acabam sendo usados no Brasil, tirando vagas de jovens brasileiros que aqui permanecem (pois os bons são vendidos cedo).

Vide a partida Manchester City 4x0 Fluminense: o time inglês nem se esforçou (e estava desfalcado de Haaland e de De Bruyne), enquanto o time brasileiro, completo, deu o máximo que pode. Será que os estrangeiros do Flu jogariam na Premiere League? Óbvio que não.

Mas o que fazer?

Fortalecer financeiramente os clubes, segurar os atletas de base, evitar (em existindo mesma condição técnica) trazer estrangeiro, dar oportunidade a jovens, mas o principal: promover intercâmbio! Jogar no Exterior e reciclar nossos técnicos ajudaria muito...

Rafael Porcari é professor universitário e ex-árbitro profissional (rafaelporcari@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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