OPINIÃO

Edu Lobo oitentão

13/12/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Em agosto de 1943 nasce no Rio de Janeiro Eduardo de Góes Lobo, menino que o mundo conheceria nas décadas seguintes como Edu Lobo, um dos mais talentosos compositores da música brasileira. Autor de trilhas sonoras para filmes, peças de teatro, balés, programa infantil, Edu Lobo continua ativo. Lançou neste ano seu último trabalho, "Oitenta", pela gravadora Biscoito Fino. Seus parceiros na música brasileira são estelares, como Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque e Aldir Blanc.

Filho do também compositor Fernando Lobo, o carioca Edu estuda Direito, mas foi a música que o atrai desde cedo. Começa tocando acordeão, migra para o violão e depois para o piano. Haja sonoridades saindo da cachola, do coração e dos instrumentos desse moço. Como "Chegança", parceria com Oduvaldo Viana Filho, sucesso em 1963. Ou "Zumbi", com Vinícius de Moraes. A canção integra a peça "Arena canta Zumbi", de onde vem "Upa Neguinho", com letra de Gianfrancesco Guarnieri. Gravada por Elis Regina, em 1965, a canção foi outro grande sucesso. Nesse mesmo ano, inscreve duas composições no Primeiro Festival da Música Popular Brasileira, da TV Excelsior: "Aleluia", parceria com Rui Guerra, e "Arrastão", com Vinícius de Moraes. Interpretada por Elis Regina, "Arrastão" ganha o festival e projeta nacionalmente seu jovem coautor. Edu excursiona pela Europa no ano seguinte. De volta ao Brasil, compõe, com José Carlos Capinam, "Ponteio" ("Era um, era dois, era cem..."), para o Terceiro Festival da Música Popular Brasileira, desde o ano anterior na TV Record. A música foi um arrasa-quarteirão. Para interpretá-la, Edu e Capinam cercam-se de um timaço: a cantora Marília Medalha, os músicos Theo de Barros, Hermeto Pascoal, Airto Moreira, Maurício Maestro. Concorrendo com canções do nível de "Domingo no parque", de Gilberto Gil, e "Alegria, alegria", de Caetano Veloso, a composição de Edu e Capinam ganha o primeiro lugar.

Em 1969, com a asfixia do ambiente ditatorial, parte para os Estados Unidos com sua primeira mulher, a cantora Wanda Sá. São dois anos fora e três álbuns lançados. Na volta, faz a orquestração da peça "Calabar, o elogio da traição", de Chico Buarque. Na década de 1980, saem duas obras-primas: o disco "Edu & Tom", com o maestro soberano Tom Jobim, e a trilha sonora de "O grande circo místico", parceria com Chico Buarque. O LP com Jobim conta com produção de Aloysio de Oliveira; já a trilha sonora para o balé de Naum Alves de Souza reúne Tim Maia, Gal Costa, Milton Nascimento, Zizi Possi e arranjos de Chiquinho de Moraes. Só feras. Em 1978, grava no LP "Camaleão" a versão de "O trenzinho caipira", de Heitor Villa Lobos, com a letra de Ferreira Gullar. Na década de 1990, faz trilha sonora para o programa "Rá-Tim-Bum", da TV Cultura, e para o filme "Canudos", de Sérgio Resende, ambas premiadas. Em 2001, compõe a trilha do filme "O Xangô de Baker Street", adaptação do romance de Jô Soares. Seus 70 anos foram comemorados com turnê pelo Brasil. Agora, aos 80, as comemorações são mais discretas (houve show em São Paulo e no Rio). Salve, Edu Lobo, ícone da música brasileira.

Fernando Bandini é professor de literatura (fpbandini@terra.com.br)

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