Meu treinamento físico é sempre muito "diferente". Meu personal, responsável por este trabalho, além de experiente na área de biomecânica, movimento e treinamento funcional, tem formação em yoga e procura sempre não só treinar os corpos físicos dos seus alunos, mas também os outros corpos astrais, que no primeiro encontram sua firmeza.
Comigo não é diferente. Na nossa última sessão, depois de uma série extenuante de treinamento de força, com altas cargas, ele me colocou, junto com o grupo, em uma posição muito conhecida no meio do yoga, a chamada posição do "guerreiro"
Quem já a experimentou sabe do que escrevo: mais do que uma postura corporal, a posição cria a possibilidade de concentrar toda a força da estrutura do corpo, através de uma cadeia de estabilidade entre músculos e articulações, em um único ponto: a extremidade do nosso braço estendido para frente do nosso corpo.
Nesta batalha que eu me encontrava, procurando o relaxamento no desconforto, comecei a pensar o quanto uma força de vontade "afiada" poderia transpassar, saindo como um feixe de energia, da ponta dos meus dedos, tal como uma lança, me levando a conquistas de objetivos mais profundos e distantes.
A postura leva a estes pensamentos. Começamos sentir-nos corajosos, fortes, enraizados no solo e prontos para enfrentar a tudo e a todos. "O que eu mudaria, com esse poder descoberto, na minha vida?" Foi a pergunta que surgiu, em meio à queimação do meu quadril.
Falo muito para meus pacientes que certos fatos da vida são inevitáveis. Perdas, erros, arrependimentos. Basta ser humano para que ocorram. A dor advinda deles também. Ela é até necessária, para que a gente alcance o que deseja. Tal como a dor que eu estava sentindo no corpo todo, para manter aquela postura.
No entanto, se nos focarmos naquilo que estamos obtendo, no que estamos criando, nas possibilidades que estão se abrindo quando nos esforçamos ao máximo para obter aquilo que acreditamos sermos merecedores… a dor se torna menor! Como é possível?
Ao mudarmos o significado de uma dificuldade, seja em uma postura de yoga ou na nossa própria história de vida, muda o peso que ela tem e as emanações que vêm dela. A dor não é um fim, se torna somente um meio para algo maior.
Admitimos que a dor foi o necessário para obter o benefício da saúde, por exemplo. Ou grandeza. Ou força. Qualquer coisa que desejamos estruturar no nosso ser.
De repente percebemos que não existe atalho para o que tem valor e por isso é cobrado por esse sucesso uma parte da nossa própria vida. Se envolve dor, que seja, para chegar a algo maior e que antes não tínhamos acesso.
A alegria de conquistar é uma sensação que inunda a alma a partir do canal gerado pela lança que o guerreiro atira, atingindo aquilo que ele mais quer e neste gesto ele empenha todo o seu ser.
Em meio a estes pensamentos, reformulando e ressignificando os caminhos da minha vida que me conduziram até aquele momento especial de contato comigo mesmo, senti o incômodo dos quadris diminuir e se tornar algo perfeitamente razoável de se pagar, diante da beleza do caminho que se abria.
Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)