ARGENTINA

Brasil ainda não consegue prever efeitos das privatizações de Milei

Presidente eleito continua batendo na tecla de fechar o Banco Central; decisões da gestão ultradireitista preocupam líderes do Mercosul

Por Agências | 26/11/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Divulgação

Milei toma posse dia 10 de dezembro com desafio de minoria no Congresso
Milei toma posse dia 10 de dezembro com desafio de minoria no Congresso

A vitória do candidato ultradireitista Javier Milei para presidência da Argentina, no último domingo (19), levantou dúvidas em relação ao futuro das relações diplomáticas e econômicas entre Brasil e Argentina devido a posturas do candidato ao longo da campanha. Milei defendeu a saída da Argentina do Mercosul, mas depois recuou e passou a defender apenas mudanças no bloco econômico, que reúne também Uruguai, Brasil e Paraguai.

Milei disse também que não faria negócios com o Brasil, nem com a China, os dois principais parceiros comerciais da Argentina, e ainda fez duras críticas contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lançando dúvidas sobre as relações entre os dois países. A Argentina, afinal, é o terceiro principal destino das exportações brasileiras, perdendo apenas para China e Estados Unidos.

O economista Messias Mercadante, de Jundiaí, avalia de forma negativa o conjunto de manobras a que o governo argentino, que toma posse oficialmente no dia 10 de dezembro, se pretende conduzir, incluindo a redução dos ministérios - na contramão do que fez Luiz Inácio Lula da Silva, para conseguir governar -, a dolarização e, principalmente, o fechamento do Banco Central. "A função do Banco Central é preservar o valor da moeda, aumentar a liquidez e, assim, aumentar a oferta de moeda e de crédito. Se a inflação está alta, ele enxuga a liquidez, retirando moeda e crédito para os juros subirem e consequentemente provocar redução da demanda agregada. Acabar com a instituição é acabar com essa dinâmica, deixando a economia instável. É um erro", analisa.

O economista frisa ainda que o Brasil aguarda com expectativa as decisões de Milei, uma vez que o país mantém relações diretas com o território argentino. "Comércio internacional é uma via de mão dupla, um exporta e o outro importa, um investe e o outro recebe investimentos. O Milei caminha para situação de estrangulamento da economia da Argentina, porque ela não tem poder de emitir dólares", diz, referindo-se ao cenário de crise a que a Argentina assiste há décadas, com inflação chegando na casa dos 142% ao ano.

Por outro lado, Mercadante acredita que o presidente eleito vai ter "dificuldades" para governar, porque, ao enxugar o número de ministérios, ele fica mais "refém" do Congresso, no qual é minoria e cujas bancadas estão polarizadas. Os reais impactos para a economia da América Latina, no entanto, ainda serão conhecidos nos próximos meses, segundo ele.

RELAÇÃO INSTITUCIONAL

O cientista político argentino Leandro Gabiati destacou que aliados e assessores do futuro presidente da Argentina, apesar de afirmarem que ele não terá relação pessoal com o presidente Lula, afirmam que haverá contatos institucionais via Itamaraty ou ministérios.

"Ainda que os dois presidentes não conversem diretamente, há interesses em comum que farão com que as relações entre os dois países continuem relativamente normais. Enxergo como algo parecido com o que aconteceu entre o ex-presidente Bolsonaro e o presidente argentino Alberto Fernández. Os dois não dialogaram durante suas gestões, mas muita coisa continuou avançando", ponderou.

Gabiati acredita, porém, que medidas de teor liberal, ainda que não tire a Argentina do Mercosul, pode enfraquecer o bloco. "Não será uma relação fácil entre Argentina e Brasil, mas não se chegará ao radicalismo de tirar a Argentina do Mercosul porque isso traria sérios impactos para economia e indústria argentina", afirmou.

Messias Mercadante considera manobras de Milei um 'erro' para a economia latina
Messias Mercadante considera manobras de Milei um 'erro' para a economia latina

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