OPINIÃO

Estudem de graça

12/11/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O Brasil precisa de mais professores. Lamentável que a carreira docente não seja a mais almejada pela juventude. Experiência própria me autoriza a concluir que é raro encontrar um estudante no ensino fundamental e no ensino médio que pretendam ser professores. Nas inúmeras visitas a Escolas Estaduais paulistas, costumava indagar em cada classe, o que os alunos gostariam de ser, quando adultos. Para frustração minha, quase nunca alguém escolhia o magistério.

Esse fenômeno é um reflexo da desconsideração que a carreira hoje merece. Sinal do trato pouco atencioso que o Estado destina à educação. O governo quer resultados. Mas se equivoca ao aponta-los. Quando se pensa num consistente projeto educacional, sabe-se que os frutos serão colhidos a longo prazo. Os chineses têm razão quando dizem: "Quer educar adequadamente um povo? Comece-se a trabalhar cem anos antes". Já o governo quer resultados para uma gestão. Querem vencer o ranking para obter êxito na matriz de pestilência chamada "reeleição" ou na próxima eleição.

A educação estatal é anacrônica. Prioriza a capacidade de memorização e negligencia o que é mais importante: as habilidades socioemocionais. Por isso a evasão no Ensino Médio, porque o jovem não aguenta aulas prelecionais, quando encontra toda informação de que necessita num clique em qualquer bugiganga eletrônica.

De que adianta alguém que decora e não é feliz? Educar é preparar para a vida. Permitir que o ser humano procure atingir suas potencialidades, até à plenitude possível. Mais ainda, qualificar-se para o trabalho e capacitar-se para o exercício da cidadania.

Mal remunerados, desrespeitados por alunos e por pais de alunos - embora não seja a regra, mas isso existe - os professores são frustrados. Como é que um desalentado pode transmitir entusiasmo ao educando?

A 5ª Revolução Industrial, ora em curso, impõe que o ensino se adapte às novas tecnologias. Se a educação não se apropriar delas, elas somente servirão a fins menos nobres. Para contaminar a política profissional, exercida em caráter permanente sempre pelos mesmos, embora a teoria prestigie a transitoriedade dos mandatos.

Sem que a família e a sociedade assumam a sua responsabilidade pela educação - que é direito de todos - permitir-se-á que ela continue sob a égide do governo. E educação é algo muito sério para se entregar exclusivamente a qualquer governo.

É imprescindível que haja uma renovação do prestígio do magistério e que mais jovens procurem exercer a docência, com nova metodologia, novos propósitos e renovado fervor. E os heroicos moços que se propuserem a assumir essa missão têm inúmeras opções a chamá-los.

Isso porque algumas importantes Universidades brasileiras oferecem cursos de graduação à distância. A maior parte da oferta é de licenciaturas e algumas oferecem atividades presenciais, como a UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo e a UNESP - Universidade Estadual Paulista.

A UNESP, a Universidade Estadual Paulista oferta Ensino à Distância e conteúdos online, síncronos ou assíncronos e provas presenciais a cada dois meses. Ela mantém curso de pedagogia para profissionais de educação infantil de escolas municipais de São Paulo, Guarulhos e Cubatão. Por que não para professores de outras cidades?

A UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo mantém curso de Tecnologia em design educacional. Muitas outras Universidades públicas, mas sediadas em outros Estados-membros, também têm cursos EAD.

Exercer o magistério por vocação é sublime. E é preciso que venham outros artífices, pois a messe é grande. Até para intensificar o movimento de revalorização das carreiras docentes. Sem isso, o Brasil não terá futuro.

José Renato Nalini é reitor de universidade, docente de pós-graduação e Secretário-Geral da Academia Paulista de Letras

(jose-nalini@uol.com.br)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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