OPINIÃO

Hombridade

10/11/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Já tiveram contato com esta palavra? Infelizmente, nos dias de hoje, são muitas as pessoas que irão responder que pouco conhecem, usam e mesmo sabem o que ela significa. Isso demonstra uma discussão que precisa ser iniciada, acredito que um pouco difícil, pois mexe com pilares muito sensíveis da nossa sociedade, mas a urgência com que isso é necessário deve superar qualquer medo ou receio.

O que é ser homem nos dias de hoje? Evidentemente não me refiro a uma condição geneticamente adquirida, manifesta na morfologia do corpo, ou seja, no coloquial, não é somente ter nascido com um genital masculino. Isso é parte da propriedade do masculino, mas não ela toda.

Refiro-me à energia masculina, ao "ativo", a parte yang do binômio que é base filosófica da medicina chinesa e que, segundo ela (e outras tradições milenares) é constituinte de todas as coisas, anima e fertiliza o sagrado feminino. Sem essa parte, a própria existência da terceira dimensão estaria condenada.

Então, podemos discutir o yang e suas propriedades ativas e expansivas enquanto força presente em todas as coisas, em toda a matéria física e astral, bem como em todos os seres, inclusive humanos, independente do gênero e preferência sexual.

Desfeito o mito de que a energia masculina está presente somente nos homens nascidos com essa morfologia e exposto também o tabu que esta energia determina a preferência sexual ou mesmo que ela esteja diretamente relacionada à presença ou a "quantidade" dessa energia em alguém, podemos retornar ao início: o que é hombridade?

Hombridade, segundo o dicionário, é honradez, retidão, propriedade do que é correto. Algo como "conhecer e servir princípios maiores que si" e manter-se fiel a eles diante das adversidades. Bem alinhado ao que o princípio do yang, o "criativo" faz: expande os limites, abrindo caminhos para novas estruturas, maiores e mais complexas que as anteriores. Encaminha "o novo" para ter seu lugar na existência.

Muito já falei aqui do sagrado feminino, o yin, e de como ele dá forma ao mundo. Pois bem, o masculino mostra como essa forma deve caminhar, por quais trilhas deve se manter e bem como o ritmo e direção em que este caminho ocorre.

Neste processo de expansão, a energia masculina se coloca na superfície das coisas, não porque ela é "superficial", mas sim, porque no seu esforço de guiar o crescimento do todo, protege (outra propriedade do masculino) e mantém a integridade do sagrado que é interior, de raiz yin, feminina.

O desenvolvimento adequado do arquétipo masculino, tal como descrito pela hombridade encontra seu fim no serviço à um bem maior à humanidade complexa e diversa tal como ela se apresenta e que garante sua livre e genuína manifestação.

O desenvolvimento incompleto deste arquétipo, ao contrário, leva à sociedade dita "patriarcal" que agride e fere "por dentro" o sagrado feminino, na tentativa de escravizá-lo para desejos egoístas e mesquinhos, calando-o  no pedido por verdadeiros seres de hombridade capazes de lhe acolher e expandir.

Alexandre Martin é médico, especialista em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia, bem como, orgulhosamente homem (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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