Opinião

Chás funcionais

06/10/2023 | Tempo de leitura: 3 min

As pessoas normalmente acham divertido quando pronuncio os nomes das fórmulas magistrais chinesas (que são as tradicionalmente usadas nos nossos tratamentos) com seus nomes originais.

"A senhora irá tomar duas cápsulas do XIAO YAO TANG por 30 dias e depois…"

"Como doutor?", exclama ela com olhos arregalados. O que posso dizer? Os nomes são todos em mandarim, até hoje. Contudo, dentro destes nomes existem conhecimentos que nos ensinam sobre a evolução e uso das ervas medicinais segundo a filosofia chinesa.

Observe a palavra final do nome da fórmula: tang. É o som da pronúncia do ideograma chinês que pode ser traduzido como "decocção" ou "sopa". Muito presente no nome de várias fórmulas, mostra a tradição, muito difundida no oriente de utilizar a fervura da água, com as ervas para extrair o melhor de cada uma, o nosso conhecido chá.

Mais do que um método de extração, o chá acaba sendo uma forma de combinar as ervas, pré-selecionadas e em quantidades específicas, para que se obtenha suas propriedades e que elas atuem de forma combinada no organismo.

Assim, ervas anti-inflamatórias podem ser combinadas com ervas diuréticas para ajudar a findar um processo de inchaço (ou edema) articular ocasionado por alguma doença reumática.

O mundo ocidental começou a se interessar mais pelos chás e pela sua cultura mais recentemente, quando estudos científicos vaticinaram o que, pela tradição presente em muitos países orientais, já se sabia: além de saborosos podem ajudar conservar a saúde, dando um "empurrãozinho" para que nosso corpo se comporte da maneira que nós precisamos, melhorando o seu metabolismo, imunidade e mesmo retardando o envelhecimento.

Quero, contudo, enfatizar algo muito importante no processo: a parte energética do chá. Muito famosa, mesmo no ocidente a cerimônia do chá, presente na cultura japonesa, tem vários aspectos e significados simbólicos, que podem interferir nos campos energéticos de todos que participam dela, bem como produzir estados alternativos de consciência nos mais sensíveis ao que está sendo executado. Como isto é possível?

O poder de um ritual, como a cerimônia do chá, começa pela abertura que os seus participantes permitem que aconteça no tecido da vida cotidiana deles, para que ocorra algo extraordinário e ao mesmo tempo simples. O ato de parar tudo (as ações, as preocupações, os anseios e expectativas) para que se consiga tomar um chá. Nada mais, nada além.

Quando se entrega a isso, permite que a própria energia flua por si só, sem que precise de um estímulo fora do comum, seja por fortes emoções, seja por comidas de sabor extraordinário… o chá é algo que encanta pela simplicidade do que é feito e surpreende pelo efeito que ocasiona: não é preciso muito para ser feliz, para entrar no fluxo da vida.

Experimente! Permita-se por cinco minutos, se entregue no processo de preparação, se separar a louça, colocar uma mesa, mesmo que seja somente para si mesmo, aguarde a fervura da água reconhecendo o tanto de energia necessária para que os processos da vida ocorram e depois introduza as ervas e aguarde o tempo certo para que tudo fique maturado e pronto por si. Tal como na vida.

Alexandre Martin é médico acupunturista e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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