Como já disse em outros artigos, eu sou paulistano, mas moro em Jundiaí desde do meu primeiro ano de vida e por isso me considero Jundiaiense nato. Um dos apelidos desta terra, que tão bem me acolheu, é o de "Cidade dos Ventos". De fato, talvez pela proximidade geológica com a Serra do Japi, o vento é um elemento da natureza que todo Jundiaiense tem contato constante o ano todo, mas principalmente na época em que nós nos encontramos.
O vento na medicina chinesa é considerado um "elemento perverso", possuindo ainda um agravo, carregando consigo o apelido de "rei dos perversos". Isso vem do fato que o vento pode potencializar o efeito deletério de qualquer outro elemento da natureza, assim: o frio pode nos incomodar, mas o vento-frio incomoda muito mais. A secura pode ser um problema para as nossas mucosas e vias aéreas, porém o vento-secura pode iniciar crises alérgicas e de bronquite.
Eu particularmente não gosto dessa denominação "perversa" para o elemento da natureza, apesar de ela ser tecnicamente correta do ponto de vista da medicina tradicional chinesa. Eu prefiro a denominação "bruta" ou até mesmo "primitiva" para esse tipo de energia que pode chocar o nosso sistema, quando entra em contato de uma forma abrupta.
Como tudo na natureza o vento reflete algo que é necessário e que é realmente deletério quando não estamos preparados para ele, não havendo neste elemento uma verdadeira natureza "perversa", o que seria imbuir uma característica humana e emocional a um elemento que não a possui.
Veja que o vento é algo de grande importância: a própria medicina chinesa o caracteriza como algo que é capaz de criar movimento, deslocar objetos e energias para outros lugares, com isso quebrando a inércia e a imobilidade. Por isso mesmo que o vento é associado à estação da primavera, onde sua ação quebra a dormência gerada pelo período de inverno. Se não fosse o vento a natureza não poderia acordar do seu sono Invernal e a vida não se colocaria em movimento de crescimento novamente.
O vento, portanto, é um elemento de renovação e por muitas vezes abre espaço e oportunidades de forma abrupta e inesperada.
Convido agora os leitores(as) que reflitam sobre a própria vida neste momento e analisem, como o cenário de cada um poderia ser diferente se permitissem que alguns dos elementos (pessoas, objetos, processos e relações) se movessem.
Entregar e liberar para que o movimento ocorra e esses elementos que abrigam nossa própria energia vital sejam levados para longe ou, quem sabe, para próximo mesmo, mas de uma outra forma, revelando uma face, uma nova visão.
Abrir-se para as novas possibilidades, novas potencialidades que os bons ventos nos trazem (sim, os ventos trazem elementos também, não só os subtraem).
A mudança pode ser amedrontadora num primeiro momento, mas ela é um elemento necessário para a renovação da vida e seu representante é o vento que parece bagunçar, mas ele procura na realidade uma nova forma de organização.
Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em osteopatia e medicina tradicional chinesa (xan.martin@gmail.com)