Opinião

Sobrevivência e Genética

11/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

A genética é uma parte da ciência biológica e da saúde que é relativamente nova. Quando tivemos as primeiras perspectivas reais de todos os genes do nosso corpo serem "mapeados" (lá pelos anos 80-90),  logo nos empolgamos pensando que descobriríamos "em breve" a cura de todas as doenças e estaríamos perto da imortalidade (desculpe o tom irônico em escrever, quase jocoso, mas esta expectativa, um tanto inflada, foi sempre uma constante nas grandes descobertas, tal como o uso da penicilina como antibiótico, o uso de cortisol sintético, chamado de corticóide etc.)

Em 2003, 92% do nosso genoma (conjunto de todos os nossos genes, "arquivados" no núcleo das nossas células) foi totalmente descrito, trazendo importantes e decisivos avanços no conhecimento da nossa fisiologia, que levaram a possibilidade de cura para muitas doenças, até então mortais.

Quase 20 anos depois, os oito por cento restantes do genoma continuam sendo um desafio para os pesquisadores e nosso conhecimento cresceu em um ritmo mais… modesto.

Contudo, eu sou imensamente grato à estes avanços, até porque tenho amigos(as) que tiveram a oportunidade de repensar as próprias vidas e as prioridades depois de um diagnóstico que os levaria a terminarem a vida bem antes do que achavam. Esta oportunidade só se realiza devido ao trabalho de pessoas de mentes brilhantes e com corações maiores que os próprios corpos. Fica aqui a minha gratidão e o agradecimento de todas as famílias que foram preservadas de perdas por conta deste trabalho.

O que se sabe, entretanto, é que temos muito a aprender. Sabemos, por exemplo, que este genoma não é expressado integralmente: não é porque um gene está arquivado que ele necessariamente vai ser utilizado. Muitos desses genes inclusive só são utilizados em situações específicas,  muitas vezes desencadeadas por estímulos que vem do ambiente,  gerando uma das áreas que está em alta na ciência genética de hoje:  a epigenética.

Essa parte da ciência estuda o efeito do ambiente e da percepção do indivíduo (veja bem, escrevi percepção, ou seja, o que interessa como o indivíduo percebe a situação e não necessariamente como ela é na " realidade"). Sabemos que certos perigos da antiguidade, como ser perseguido, ser ameaçado por um Predador, deixaram suas marcas no nosso Genoma, nos ensinando como o nosso organismo deve reagir para ter condições melhores de sobreviver diante dessas ameaças.

Hoje em dia não temos contato com essas ameaças verdadeiramente, porém o medo de que um colega de trabalho "roube" o seu cargo em uma empresa pode fazer com que a parte interna das artérias reaja produzindo uma dilatação, a fim de que o desempenho do metabolismo melhore e impeça esse "roubo". Um processo totalmente inadequado, mas que um dia foi útil, quando éramos mais "selvagens".

Tão logo esse processo termine, é comum uma inflamação nesta parte das artérias para que se repare o que foi lesado durante o ataque. Isso causa um aumento do colesterol circulante, elemento fundamental no processo de reparação desse tecido orgânico.

Talvez aí esteja a explicação porque pessoas estressadas têm uma dificuldade de controlar os níveis deste elemento no sangue.

Alexandre Martin é médico especializado em acupuntura e conformação em osteopatia e medicina chinesa (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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