HOBBY

Cerâmica vai além da criatividade e auxilia na saúde mental

Por Yasmim Dorti | Jornal de Jundiaí
| Tempo de leitura: 4 min
Yasmim Dorti
Marília é ceramista desde 2016 e dá aulas em um ateliê de Jundiaí
Marília é ceramista desde 2016 e dá aulas em um ateliê de Jundiaí

Em um mundo cada vez mais acelerado, com casos cada vez mais comuns de estresse e ansiedade, a cerâmica artesanal ressurgiu como um refúgio para pessoas que buscam bem-estar e um hobby para passar as horas vagas. Joyce Sousa dos Santos, 28 anos, formada em relações públicas, começou a praticar a cerâmica como hobby. “Comecei há pouco mais de dois anos. Sempre tive vontade de aprender, de ter peças bonitas de cerâmica, também adoro trabalhos manuais, já fazia alguns outros por hobby, como bordado livre e encadernação, por exemplo. Eu costumo fazer peças pequenas como pratinhos, cinzeirinhos e combuquinhas”, contou Joyce.

Rafaela Miranda Dardengo, 31 anos, designer de produtos digitais, sempre teve muito interesse por arte e artesanato, por isso, decidiu fazer cerâmica. “Já faço há um ano e meio. Sou designer e já tinha muito interesse por arte, artesanato e pintura. Na pandemia comecei a explorar alguns hobbies que já tinha, como a pintura e comecei a ver muitas referências de pintura em cerâmica. Me apaixonei, vendo referência de diversos artistas pelo Instagram e Pinterest. Comecei a fazer bijuteria em cerâmica plástica, pois na época os cursos de cerâmica que eu conhecia estavam fechados. Encontrei o curso da Marília Gonçalves e desde então segui fazendo o curso com ela. Além do curso, comecei a fazer produzir peças em casa e estou num processo de criar um estúdio meu, onde posso produzir peças com a minha identidade”, explicou Rafaela.

Marilia da Purificação Ferreira Gonçalves é ceramista desde 2016. “Eu trabalhava numa agência de propaganda aqui em São Paulo e tinha uma vida bem louca. Eu trabalhava praticamente 24 horas, era uma workaholic e por isso tive um episódio de depressão devido a vários problemas familiares e de doença. Eu fui para terapia fazer tratamento e a minha terapeuta falou: ‘porque você não procura alguma coisa que você goste de fazer manual?’ e eu sempre me identifiquei muito com a escultura, queria muito fazer cerâmica. E então eu sempre procurei um ateliê próximo que eu pudesse fazer, mas nunca dava certo os horários que a minha vida era uma loucura. Então eu achei uma ceramista que trocou o horário para que eu pudesse praticar e desde então não parei mais”, contou Marília. Atualmente, a ceramista dá aulas de cerâmica na Vila Boa Ventura, em Jundiaí.

BENEFÍCIOS 

Além de impulsionar a criatividade, os praticantes de cerâmica contam que a atividade auxilia no bem-estar e na saúde mental. De acordo com a psicóloga Fátima Regina Negri, a prática ajuda na expressão dos sentimentos, criatividade, é possível expressar melhor suas vontades e ideias. “Pode ser benéfica também para o autoconhecimento, favorece melhor a comunicação dos sentimentos”, explicou a psicóloga.

“Me ajuda a reduzir a ansiedade, através da concentração necessária para modelagem, da sensação de se sentir capaz, porque dá muita satisfação de ver algo feito por você no final”, contou Joyce.

“A cerâmica ajudou muito com a ansiedade, pois consigo explorar um talento e expressar minha identidade com muita liberdade através da criação e pintura da cerâmica. Cada peça que fazemos temos que ter muita calma. O processo da cerâmica é lento, diferentemente da correria que temos que lidar no trabalho e no dia a dia. Hoje considero a cerâmica não só um hobby, mas também uma atividade que me me traz muitos benefícios para minha saúde”, revela Rafaela.

A cerâmica é muito benéfica em todos os sentidos. Os alunos normalmente acham que não são capazes de fazer arte, mas aí eles se surpreendem com o quanto eles conseguem fazer. É muito legal ver a pessoa se descobrindo e falando ‘Nossa, eu que fiz!’, ficar impressionado com aquilo, com a criatividade dele”, contou Marilia.

DIFICULDADES 

Apesar dos benefícios, também existem dificuldades no ramo da cerâmica. “Não tem loja de materiais aqui em Jundiaí, então para comprar a argila e esmaltes tenho que ir a São Paulo. A argila em si, não é tão cara, mas quando comecei era mais barata, já houve alguns reajustes. Os esmaltes, a queima e o transporte é o que encarece um pouco a produção. Apesar de vender algumas peças, não tenho tido lucro em si. Por enquanto, tenho vendido a maioria das peças apenas para cobrir os custos e continuar fazendo. Por não ter muito espaço de armazenamento e não poder investir muito, não consigo negociar melhores preços com fornecedores como ateliês maiores fazem”, explicou Joyce.

 “Não existem muitos ceramistas ou escolas, o que dificulta a queima das peças para iniciantes. Um forno é muito caro para um iniciante, então por isso acabamos alugando e utilizando fornos das escolas. Também acho que falta espaço para divulgar nosso trabalho, como feiras ou eventos. Tirando isso, é super possível fazer a cerâmica de casa e levar em algum estúdio para a queima”, contou Rafaela.

“Jundiaí está caminhando. Não existem muitos estúdios ou ateliês, acredito que eu seja a única ceramista que dá curso aqui na cidade, mas está dando frutos. Eu tenho dois alunos meus agora que também acabaram de inaugurar um espaço que eles querem fazer uma outra proposta, como, por exemplo, alugar para o pessoal fazer sua cerâmica. Mas aos poucos eu percebo que existe uma crescente no ramo da cerâmica aqui no município”, explicou Marília.

Joyce faz peças pequenas como pratinhos, cinzeiros e combucas
Joyce faz peças pequenas como pratinhos, cinzeiros e combucas

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