Nesta semana em que se comemora o aleitamento materno, aproveitamos para refletir sobre alguns aspectos desse ato que é de vital importância para o ser humano. Enquanto mamíferos, escolhemos como estratégia de sobrevivência, em nossa linha evolutiva, darmos à luz nossos filhos enquanto eles ainda são frágeis, precisando de cuidados, proteção e principalmente nutrição.
Vejam, somos seres com corpos bem complexos, vários sistemas diferentes (endócrino, nervoso, imunitário, musculoesquelético etc.), com vários relacionamentos entre eles ocorrendo ao mesmo tempo. Essa complexidade tem, contudo, um preço: se fossemos nascer prontos para a vida, tal qual animais de menor complexidade o fazem (répteis, por exemplo), a nossa gestação teria que ser excessivamente longa e as fêmeas ficariam durante muito tempo prenhas e, por isso, vulneráveis.
A solução para isso foi o aleitamento materno que nos caracteriza como mamíferos: nascemos ainda frágeis precisando de um período de maturação "do lado de fora" dos corpos de nossas mães, nos nutrindo de um líquido orgânico modificado para ser o superalimento: hidrata, nutri e vacina ao mesmo tempo.
Existem várias características da nossa sociedade que decorrem desta estratégia biológica: uma delas é a estrutura de grupo (físico e psicológico) mais fundamental que conhecemos: a família. A figura materna cuida do filhote no ninho, nutrindo-o do próprio corpo que se dá em forma de leite (energia de natureza Yin) e a figura paterna, se volta para o exterior (energia de natureza Yang) protegendo o ninho e o provendo com elementos do mundo exterior.
No entanto, não para por aí: o aleitamento materno é, literalmente, a primeira experiência de troca com a qual temos contato. Trocar de uma forma equilibrada, onde as duas partes se empenham para satisfazer a outra ao mesmo tempo que recebe algo como retorno do seu empenho, é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade justa.
A mãe entra com o próprio corpo, através da energia que flui através do seu leite, proveniente de um meridiano chamado Chong Mai, cujo nome significa "Mar dos Doze canais", mostrando a conexão dele com todos os outros canais do corpo.
A mulher nesse ponto está se doando por inteira para o filho, sem falar no amor e emoção depositados neste ato. Quem teve a oportunidade de amamentar sabe que é algo "viciante" de tão agradável que é.
O bebê por sua vez, retribuirá com sorrisos, carinhos e com uma ligação que acredito ser uma das mais profundas que o ser humano pode experimentar na sua vida terrena.
Parte desta retribuição também ocorre com o próprio desenvolvimento do bebê, que satisfaz ambos os pais no desejo de continuidade da própria existência. É como se os pais pudessem sentir satisfação pelo potencial de realização que está se formando naquele pequeno ser que cresce forte, a cada vez que se aninha no colo da mãe, para sua troca de amores e de olhares.
Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e com formação em osteopatia e medicina tradicional chinesa (xan.martin@gmail.com)