OPINIÃO

Libido, o livre fluxo da vida

09/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Façamos um breve esforço de imaginação! Imagine um homem, de vinte e poucos anos que começa um relacionamento romântico com um bela jovem, cabelos longos e castanhos que descem pelos ombros como cachoeira da mata virgem,, olhos verdes esmeralda que brilham mais que as estrelas no limpo céu de verão e pele alva, suave e ondulante como as ondas do deserto infinito. Na presença dela, toda a vida tem mais cor, o ar tem perfume de rosas na primavera e o seu sorriso garante, a quem tem o privilégio de vê-lo, que todos os seus sonhos, absolutamente todos, irão se realizar.

            Imaginaram?

Claro, eu apresentei a imagem da donzela vindo diretamente da mente de um homem perdidamente apaixonado, vocês devem ter percebido.

A jovem pode ser muito bonita, mas, dentro dele, ela caminha como “uma deusa andando leve no ar, com seus pés tocando o solo tal como o orvalho pousa nas folhas da relva sagrada, em uma manhã de domingo” . Expectativas decididamente… irreais.

Esta mulher que ele vê, com toda sinceridade e pureza do seu coração (inocente, mas também imaturo) não faz parte do mundo onde existem boletos para serem pagos todos os meses, louça para ser lavada e onde o sucesso é doce, mas cheira a suor.

Espero que a imagem tenha divertido um pouco vocês. Quem tem mais experiência sabe que o jovem irá, com o tempo, confrontar a expectativa com a realidade e o seu amor, baseado em um sonho, vai tentar fincar raízes nas frestas mais moles do solo da “vida real”.

Agora, o que pode ser surpresa para alguns é que eu já atendi muitos desses jovens no meu consultório, com problemas para manifestar sua masculinidade plenamente, quando em intimidade com suas parceiras(os) idealizadas(os). Parece estranho, pois, sendo fisicamente jovens, não esperamos que nenhuma "doença" impeça a felicidade plena.

Atendo também muitos homens casados que, aparentemente do nada, perdem o caminho para a satisfação de seus desejos com suas(seus) parceiras(os). Mulheres saudáveis que não conseguem atingir o auge do prazer que coroa seus relacionamentos “felizes”.

Como isso?

Olhem, a principal zona erógena do ser humano é … a sua mente. Quando temos uma desconexão entre a expectativa da energia do coração (em medicina chinesa chamamos shen) e a realidade, a energia sexual não consegue ascender pelos canais e meridianos (em particular, os do rim) e fluir livremente para o corpo todo, jorrando em circuito fechado com o parceiro onde depositamos o nosso amor, até explodir em prazer, criatividade e um nível de vivacidade que nunca alcançaríamos sozinhos.

Resumindo e facilitando o entendimento, digo que mente e corpo precisam estar sentindo a mesma coisa, desejo e realidade precisam estar relativamente alinhados para que o fluxo de vida possa encontrar caminho livre nos corpos dos amantes. Esse é o problema com a libido que eu frequentemente encontro em minha prática profissional que, no seu tratamento, precisa de um realinhamento da mente e seus sentidos, amadurecendo uma visão para a realidade, que pode (e deve!) ser bela e brilhante, mas também palpável, adulta e responsável.

Dr. Alexandre Martin é médico especializado em acupuntura e com formação em medicina chinesa e osteopatia. (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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