Opinião

Você não é todo mundo e seu diagnóstico terapêutico também não!

03/06/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Mais do que um clichê muito utilizado para sentenciar as broncas dos adultos significativos, sobretudo nas primeiras fases do desenvolvimento da vida, em muitas circunstâncias, não me ocorreu outra frase que ilustrasse melhor o que pretendo trazer para essa reflexão. 

Tenho andado muito preocupada, quando não perplexa, com alta dose de irresponsabilidade que vejo em postagens que oferecem soluções terapêuticas alternativas em redes sociais. Coisas que ultrapassam a linha de passe da preocupação e são, a meu ver, assustadoras mesmo. 

Entre as principais, a distribuição irresponsável de "diagnósticos" em postagens de Internet. 

É preciso muito cuidado e ética, pois nem toda tristeza é depressão, nem todo nervosismo é transtorno de ansiedade, nem toda alteração de humor é bipolaridade ou toda dispersão é TDAH ( Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade) como sempre lembra uma das minhas maiores influências atuais de aprendizado teórico e prático da escola do cuidado informado sobre trauma, Ediane Ribeiro. Ribeiro aliás, uma das maiores autoridades no Brasil quando o assunto é uma sociedade informada sobre trauma, principalmente aqueles de desenvolvimento, cujas correlações vem da traumatização e seus processos inter e multifatoriais.

Cada ser social é único. E nada é para todo o mundo e por isso é preciso um diagnóstico completo, que leva em conta inúmeros fatores e não apenas aquilo que nos acomete em termos psico emocionais ao longo da vida. Entre os fatores, a biografia interpessoal: onde, como, porque e quando viveu um indivíduo. Quais foram os contextos sócios culturais envolvidos? Quais foram os fatores estressores e os potencialmente adoecedores, como, déficit alimentar e de saneamento básico, acesso a cuidados básicos de saúde preventiva, moradia e segurança, entre tantos outros, que compõem a história de pessoas e grupos e são determinantes nas questões de saúde física e mental, individual e coletiva também.

Depois disso tudo contextualizado, também quero observar sobre postagens em redes sociais, a respeito do tema terapia e cura, que, quando separamos o joio do trigo (e ainda bem que joio e trigo ainda existem), observo que, sim, existe gente séria, ética e comprometida com a missão de cuidar terapeuticamente usando de amplo discernimento, embasamento, profissionalismo e sensatez. Mas são raridade!

Não trata este artigo de estabelecer comparações desqualificantes e hierarquizadoras e não se trata de ser "sommelier" de tipos e linhas de terapia. Cada uma delas, em sua particularidade e riqueza, conjunto de conhecimentos, longevidade e tradição histórica, pode sim ser uma ferramenta de bastante efetividade e eficácia. O que as diferencia é o como e quem as aplica. 

Outro fator importantíssimo é que, para todo e qualquer comportamento que pode ser desaprendido e reaprendido, pois somos dotados do que a neurociência magnificamente mais que já demonstrou, de neuroplasticidade cerebral, para provocar e promover mudanças estruturais e profundas em nós, existe processo e não um manual com dez passos para resolver rapidamente a questão.

Então, já que você não é tudo o mundo, desconfie sempre, sempre, de quem oferece soluções simples para os problemas da complexidade humana! 

Márcia Pires é sexóloga e gestora de RH (piresmarcia@msn.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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