Opinião

Pânico

26/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Imagine-se em uma atividade comum do seu dia, como ir a um supermercado. Se preferir, imagine-se até mesmo em uma atividade prazerosa, como uma "noitada" com os amigos, bebendo um pouco e ouvindo música.

Agora, aparentemente "do nada", você começa a sentir o seu coração à "disparar", de modo que sente cada batida, acelerada, no seu peito, como que a cada pulso levanta-se um pouco a própria roupa que pousa sobre a pele. Isso lhe dá algum desconforto, e você experimenta beber um pouco de água ou respirar fundo, mas mesmo o ato de engolir lhe dá um desconforto.

Antes que você possa, avisar, meio sem graça, as pessoas que estão do seu lado que algo está acontecendo, o desconforto fica permanente e passa a ser uma dor "estranha" no peito: ao mesmo tempo que não dá para negar que ela exista, não consegue definir bem onde ela está.

Já preocupado, avisa quem está próximo que algo está acontecendo (seria isso um infarto - você pensa - ainda mais receoso) e que é melhor ir a um pronto socorro. A cara das pessoas ao lhe observar deixa-lhe ainda mais preocupado!

-Você está pálido! Branco como um fantasma! O que está acontecendo?

Imediatamente, uma dor correndo pelo braço esquerdo até a mão e você nota que a sua respiração está acelerada, curta e o ar parece não mais entrar.

Infelizmente, essa história é um exemplo de algo cada vez mais comum. Lembro-me de plantões em pronto atendimento onde era responsável pela sala de emergência em que eu atendia quatro ou cinco casos como esse em um único plantão.

A pessoa entra desesperada e muito agitada, confusa e pouco conseguindo explicar o que está sentindo ou o que aconteceu. Pouco presta atenção nas perguntas que fazemos e somente fala (às vezes, de forma incisiva e eloquente) que está para morrer, exigindo condutas imediatas, ainda que não saiba quais essas condutas seriam.

No exame objetivo, pressão, eletrocardiograma, saturação de oxigênio na hemoglobina (algo que usamos para saber como está efetivamente o processo de respiração do paciente) estão todos… normais.

Diante disso, eu, com frequência, além de fazer uso de medicações para combater a ansiedade que é dominante no ambiente, peço para que o paciente respire profunda e pausadamente, focando a mente somente no processo expiratório, que deve durar o dobro do tempo do processo inspiratório (já bem rápido).

Isso ativa o sistema nervoso no seu "módulo de relaxamento", mandando sinais para que a frequência cardíaca baixe e diminua a percepção das "batidas" do coração pelo paciente. Ao mesmo tempo, a sensação de que o ar começa a "entrar" melhor no peito começa a ocorrer e o calor nas mãos, começa a voltar.

Isso foi um ataque de Pânico, ou seja, o medo da morte iminente. Ele é iniciado por algum processo no subconsciente, ligado normalmente a alguma situação estressante que se resolveu, ou seja, raramente ocorre no momento do stress em si, mas quando nos julgamos livres dele (como em um ambiente descontraído ou mesmo neutro). O sistema nervoso perde o seu controle e "escala" uma situação cada vez pior, somatizando o processo normal de resolução de um embate psicológico.

Alexandre Martin é médico acupunturista e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.