Opinião

Pele, órgão sensível

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O estudo do corpo humano é fascinante e sempre me apaixonou, sendo decisivo para minha escolha profissional, inclusive. Um aspecto muito interessante de se estudar e que pode auxiliar na compreensão do comportamento de diversas doenças ditas "idiopáticas", ou seja, sem causa aparente ou definida, é como o nosso corpo evoluiu ao longo de milhares de anos.

No caminho do desenvolvimento da vida no planeta, houve um tempo, há milhares de anos, em que a sobrevivência passou a depender da capacidade de trabalhar em grupo. Provavelmente o alimento e a água passaram a ter acesso mais restrito e concorrido, devido ao número de indivíduos que aumentava. Neste ponto da evolução, a busca de recursos em equipe era garantia de sucesso maior do que fazê-lo individualmente.

Foi aí que os seres vivos começaram com a ideia de "coletivo", presente em colmeias, alcateias e outros conjuntos de indivíduos que trabalham como um para a sobrevivência de todos.

Nesta época, então, indivíduos que tinham maior habilidade de sentir os seus iguais, perceber a necessidade deles e mais rapidamente se relacionar, possuíam uma vantagem evolutiva e seriam selecionados para passarem suas capacidades para as gerações futuras. Foi aí que a presença de órgãos de conexão direta do sistema nervoso com o ambiente fez a diferença e "interfaces" surgiram, mesclando receptores de toques, dor, pressão… para caracterizar no cérebro primitivo sensações de carinho, aconchego ou, no extremo oposto, agressão e separação.

Surgiram então os "protótipos" do que hoje reconhecemos como a pele, não só um revestimento protetor, mas um órgão de comunicação, através do nosso sentido do tato (também desenvolvido neste contexto evolutivo), que nos conduz, nos nossos movimentos, para perto daquilo que precisamos (e desejamos) e para longe daquilo que nos agride (e possivelmente associamos com dor, perda ou até mesmo asco).

Hoje, as relações sociais evoluíram muito rapidamente, muito além que o nosso contexto biológico consegue acompanhar, fazendo com que a pele reaja de uma forma "primitiva", segundo sua programação primária, gerando lesões no seu tecido que nós entendemos como sendo uma "inflamação", uma "alergia" ou até mesmo uma "descamação". Os gatilhos podem ser sentimentos e necessidades um tanto complexas, como por exemplo um desejo no subconsciente de "eu gostaria que fulano(a) segurasse minha mão" gerando uma dermatite atópica (nome que demos para uma alergia) sem causa aparente (os exames de alergia são, por vezes, surpreendentemente normais!).

Ou ainda "eu não consigo segurar essa tarefa, preciso de uma pele mais grossa para isso!", gerando uma descamação grosseira em uma psoríase palmo-plantar (outro nome de doença que inventamos), onde não está bem esclarecido o mecanismo que inicia o processo desta doença autoimune, fortemente ligada "ao emocional".

Dentro do meu processo de tratamento, então, utilizo a medicina chinesa para diminuir o processo biológico do tecido físico, bem como estabilizar os humores e as emoções (um plano energético ou astral) mas também procuro investigar e melhorar essa demanda que envolve o contato com o grupo em que o paciente está inserido.

Alexandre Martin é médico acupunturista e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

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