Tradicionalmente, dentro da medicina chinesa utilizamos analogias com a natureza para explicar o comportamento do fluxo energético. A analogia mais comum para isso é o correr das águas de um rio. Todos sabemos que o rio é fonte de vida pela região onde ele corre. As cidades da antiguidade surgiram nas margens dos rios e eles eram considerados sagrados pela vida que traziam.

O que poderia interferir na abundância do fluxo de um rio é basicamente um bloqueio no fluxo de suas águas que pode ser de duas naturezas: ou o rio tem pouca água e por isso ela não flui, ou existe algo que obstrui o fluxo da água.

Quando a água não flui, toda a vida que existe nas margens do rio começa a desaparecer pela falta dela. Para resolver esse problema temos que revitalizar as margens desimpedindo o fluxo da água, seja removendo a sua obstrução ou melhorando o seu abastecimento através da sua nascente ou dos seus afluentes.

Uma doença muito comum nos dias de hoje, com a nossa vida agitada moderna, é a chamada síndrome de Burnout e o seu tratamento tem muitas similaridades com a analogia do rio aqui apresentada!

A palavra Burnout remete a ideia de "esgotamento", ou seja, a pessoa se encontra num estado de fadiga crônica que não consegue ser revertido simplesmente com o descanso. Um dos sinais desta síndrome é, inclusive, que o cansaço e a fadiga de quem a possui não melhora mesmo que ela tire um período de "férias".

Essa falta de melhora acontece porque o fluxo de energia nessas pessoas está tão impedido que simplesmente parar as atividades não o revitaliza. Isso ocorre não porque a energia não existe, como seria em um rio com um volume insuficiente de água. A fadiga, nesse caso, ocorre porque o fluxo do rio está bloqueado e só pode ser revitalizado se for reestruturado, com o trabalho ativo para reestruturar o canal energético.

O que bloqueia o fluxo de um canal energético? Principalmente as emoções que advém das pressões de quem trabalha de uma forma muito intensa, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo. Essa pressão normalmente faz com que nos sintamos incomodados e nos cobremos excessivamente, além das nossas possibilidades, de forma que sempre temos uma sensação de insuficiência e que precisamos estar fazendo mais e melhor.

Isso promove um estado de tensão constante que faz com que o fluxo se detenha e não conseguimos relaxar no meio das nossas atividades. Logo essa tensão começa a sair do nosso campo profissional e invadir as nossas relações dentro da nossa família, começa a atrapalhar o nosso sono e críticas ao nosso jeito de ser começam a aflorar no nosso inconsciente. Dessa forma a situação de tensão invade a relação que temos com nós mesmos, dentro da nossa intimidade.

Distúrbios de baixa autoestima, preocupações desmedidas, passam a ser uma constante. Neste ponto, sem ajuda, a pessoa não consegue se reestruturar para que o fluxo se restabeleça e consiga relaxar novamente.

Alexandre Martin é médico acupunturista e com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)