Opinião

O toque e a fibromialgia

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Existe uma teoria biológica que relaciona o local do corpo acometido por uma doença com a função primordial da célula que compõe o tecido daquele local. Por exemplo, a pele é um órgão predominantemente sensitivo. A disposição dos diferentes tipos de receptores nervosos na superfície da pele foi desenvolvida em um momento da evolução de nossa espécie onde o contato social era primordial para a sobrevivência.

Dessa forma a pele era um órgão de extrema utilidade, pois com ela poderíamos sentir de uma forma mais direta e "orgânica" o mundo ao nosso redor: aquilo que queríamos por perto e aquilo do qual queríamos nos afastar.

Segundo essa mesma teoria, quando somos expostos a fatos que geram emoções abruptas e extremamente fortes, com as quais somos incapazes de lidar com o nosso intelecto (ou seja, lidar de forma racional), nossas células ativariam regiões primitivas do DNA no tecido relacionado e ele passaria a se comportar para resolver essa demanda emocional, ao invés de cumprir as suas funções fisiológicas mais comuns.

Essa teoria tenta explicar o elo entre impactos energéticos, advindos principalmente de emoções, e o funcionamento do nosso corpo. A teoria tem seus problemas, mas é útil para abordar doenças que carecem de exames que detectem anomalias, ainda que o paciente tenha vários sintomas.

Um exemplo é a fibromialgia; quem a possui interpreta os mínimos estímulos e toques na sua pele como sendo agressivos e dolorosos. Um portador de fibromialgia não tem como explicar onde dói… porque simplesmente ele sente dor por todos os lados, mesmo aos toques mais delicados. Apesar de possuir exames laboratoriais e de imagem normais, a sensação é de possuir o corpo todo machucado.

Lembro-me de um caso icônico de fibromialgia que atendi alguns anos depois de formado especialista. Tratava-se de uma mulher de 30 e poucos anos que tinha passado por perdas terríveis: os pais haviam falecido em curto período de tempo e, nesse ínterim, descobriu uma traição conjugal que deu fim ao seu casamento ainda recente, de cerca de dois anos.

Passado o período de tristeza e luto inicial, com auxílio de medicações psiquiátricas contra a depressão e a insônia, ela começou a retomar a vida, inclusive aumentando seu contato social, como era de se esperar.

Imediatamente após começou a sentir dores pelo corpo todo. Refere que a noite sentia como se o corpo inteiro latejasse, mesmo estando deitada na cama confortável.

A teoria explica então que a pele dela se tornou sensível, porque estava ávida por toques que lhe transmitissem carinho e amor, algo que ela recebia de seus pais e do seu ex-marido. A perda abrupta de todas essas fontes de estímulos para sua pele de maneira brutal e inesperada fez com que a pele se sensibilizasse demasiadamente para perceber novos estímulos, suprindo a demanda. Essa sensibilidade aumentada a levava a sentir toques comuns de maneira exagerada.

O tratamento então não deve ser só físico, mas energético também, procurando inclusive capacitá-la a lidar racionalmente com o processo de perda e reestruturação de uma vida afetiva saudável.

Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura e medicina chinesa (xan.martin@gmail.com)

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