MULHERES

Legislando entre homens, mulheres ainda lutam por espaço na política

Apesar de avanços históricos, mulheres ainda são minoria no meio político e enfrentam cacos do patriarcado para se posicionar

Por Mariana Meira | 08/03/2023 | Tempo de leitura: 3 min
Jornal de Jundiaí

DIVULGAÇÃO/ARQUIVO

Direito ao voto feminino no Brasil só foi possível com muita luta; mulheres puderam votar a partir de 1932, graças a decreto
Direito ao voto feminino no Brasil só foi possível com muita luta; mulheres puderam votar a partir de 1932, graças a decreto

Quando fica brava, os olhos verdes herdados da família italiana aumentam de tamanho em um tom de azul profundo que deixa alarmado qualquer aluno que entrar em sua sala. É o que conta Marlene Lorencini, que divide a rotina entre a vereança na Câmara de Jarinu e o cargo de diretora de uma escola estadual no mesmo município.

Por conta da “voz eloquente” com que costuma falar, segundo ela, não sobra muito espaço para se sentir diminuída dentro do espaço político, que vive praticamente sozinha no legislativo local, em uma proporção de duas mulheres para nove homens.

“Nunca senti nenhuma resistência ou reprovação por ser mulher, muito pelo contrário. Quando falo, sinto até as pessoas adentrarem no plenário para me ouvir”, diz a parlamentar, de 57 anos. Infelizmente, o relato de Marlene é exceção em um mundo de supremacia masculina.

Na linha histórica do Brasil, as mulheres tiveram que cavar com a unha um lugar de participação política - o direito ao voto feminino, por exemplo, foi concedido em 1932 por meio de decreto depois de muita luta. De lá para cá, muita coisa avançou, mas ainda é desafiador para elas estar em um ambiente de poder ocupado por uma maioria de homens.

Depois de uma passagem profissional pela prefeitura, Quézia de Lucca filiou-se ao Partido Liberal em 2020 para candidatar-se a vereadora da Câmara de Jundiaí. Foi a única mulher eleita, entre 18 homens, em uma Casa que, desde a primeira legislatura, em 1948, só teve uma presidente e poucas vereadoras. Ela confessa que não é um mar de rosas. “Muitas vezes já percebi olhares tortos para mim, como se eu não tivesse a mesma capacidade de um homem”, conta.

MEU BRASIL BRASILEIRO

Se ser mulher já dificulta um pouco mais a carreira política, a negritude, maternidade e a juventude de seus 28 anos reviram no caldeirão da militante jundiaiense Mariana Janeiro. Foi ao engravidar do primeiro filho, há nove anos, que a chave virou para entrar na política, na qual foi candidata a vereadora, a deputada federal e, atualmente, ocupa o cargo de Secretária Nacional de Mobilização do Partido dos Trabalhadores e vice-presidenta da sigla em Jundiaí.

“Quando eu me entendi uma mulher negra na sociedade e depois mãe solo, me dei conta dos problemas que mulheres como eu enfrentam no mercado de trabalho e na saúde pública, por exemplo. Eu percebi que o sistema não funciona, e se não funciona é porque tem gente que faz ele não funcionar”, destaca.

É o retrato da realidade social do Brasil, e que aperta quando é hora de subir em uma tribuna ou movimentar-se politicamente. “É um lugar em que eu tenho que provar que dou conta de que tenho que disputar espaço para falar. É uma violência política de gênero, que não entra na conta dos homens”, diz Mariana.

Hoje atuando na direção do mesmo partido em Jundiaí, Marilena Negro teve a chance de ver um Brasil de intensas participações sociais antes da criação da Constituição Federal de 1988 e um Brasil de 2023 que, mesmo com todos os avanços pela democracia e pela equidade de gênero na política, ainda colhe os cacos de um sistema patriarcal crônico.

“Houve um aumento de mulheres eleitas, mas ainda é muito pouco. É preciso uma reforma política que prepare as mulheres para se candidatarem, e que permita essa representatividade, para que elas sejam vistas com a verdadeira capacidade que têm”, opina.

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