Conversar sobre vícios nunca foi uma tarefa fácil, porque todo vício, em sua essência, tem algo de bom e produtivo para o seu usuário. Se não fosse assim, ele não seria atrativo e não se tornaria um vício.
O vício acaba por aprisionar as pessoas, pois funciona como uma armadilha; em essência, toda armadilha tem uma isca que é muito atraente para a presa, cujo poder de sedução supera o medo de ser aprisionado.
O que conta aí é a energia emocional, ou seja, a possibilidade de prazer instantâneo para o indivíduo. Pouco conta a parte racional, de lógica e de raciocínio concreto. Por isso não basta explicar os malefícios de um vício para seu usuário, pois ele procura emoção e prazer, deixando o raciocínio em segundo plano.
Adolescência é um período do desenvolvimento humano onde é natural o questionamento sobre valores e senso de estética. É bem comum que o adolescente se ache feio em relação aos seus pares nos grupos que frequenta. Se ele não tem um bom suporte psicológico nessa fase, facilmente terá a sua autoestima afetada e poderá então se julgar incapaz de ser atraente para aquilo que deseja.
Isso geralmente causa muita angústia, pois o próprio padrão hormonal típico dessa idade exige que ele descubra o próprio corpo e busque prazeres mais intensos, a fim de, com a experimentação, reconhecer-se como homem ou mulher. Acaso considere-se incapaz de fazê-lo poderá ficar propenso a buscar "uma ajuda" por outros meios.
O álcool se apresenta então como uma substância capaz de alterar o estado de consciência e nos levar a percepções novas de si mesmo e conquistar algumas coisas que acreditamos serem impossíveis de serem feitas no nosso estado normal.
O problema é que esse efeito é muito fugaz, sendo necessário fazer o uso de quantidades cada vez maiores de álcool para produzir o bem-estar almejado. Nesse momento então o vício está instalado.
Eu me recordo de quando eu mesmo era um adolescente e tinha os mesmos medos e tentações. Nessa época, um mestre de Kung-Fu me disse que "não há atalho para nada que vale a pena nessa vida". Eu adotei essa frase como um antídoto para escapar da isca dessa armadilha.
A princípio, o álcool pode parecer muito tentador, funcionando instantaneamente, mas seria um atalho com o preço alto demais, trocando a minha capacidade de sentir prazer por uma fugaz recompensa imediata. Se eu não gostava da minha forma corporal (eu era gordo demais) deveria me aceitar e buscar atrair pessoas que gostassem de mim como eu era e não me sujeitar a outros que me julgassem por "partes" do meu corpo.
Reconheci então que o álcool era um atalho para a ruína e dele me afastei até que tivesse um amor próprio suficiente para me garantir íntegro sem a necessidade de outros recursos externos. Acredito que seja esse o ponto que nos permite escapar da armadilha do prazer rápido do vício, em especial do álcool.
Alexandre Martin é médico especialista em acupuntura, com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)