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NOVO OLHAR
Envelhecer bem é um direito, diz jundiaiense em cargo federal
À frente da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, Alexandre da Silva quer mudar cultura negativa sobre envelhecimento
Por Mariana Meira | 12/02/2023 | Tempo de leitura: 4 min
CLARICE CASTRO/MDHC
Há pouco mais de um mês, Alexandre da Silva conhece uma nova cadeira de trabalho. Natural de Jundiaí, ele é o nome à frente da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, pasta pertencente ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, gerida pelo ministro Silvio Almeida.
Para assumir o cargo, exercido de forma integral em Brasília (DF), o jundiaiense precisou abrir mão, mesmo que provisoriamente, de seu trabalho como professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí (FMJ), onde atuava desde 2017.
"Não consegui conciliar os dois trabalhos. Mas assumi esse novo compromisso de braços abertos e com muita alegria, trazendo na mala toda a minha trajetória", disse Alexandre, que é fisioterapeuta por formação, doutor em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP), especialista em gerontologia e mestre em reabilitação pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Essa é a tranquilidade de um homem de 45 anos que, em entrevista exclusiva ao Jornal de Jundiaí, partilhou sua paixão pela saúde e pela longevidade - pautas que o despertaram em 2002, quando concluiu a graduação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). "Desde então me vejo cada vez mais preocupado em fazer uma gestão em que todo mundo se perceba ali. Ela pode não ser para mim, ou para você, mas pode ser para os nossos avós, e um dia serão nossas", aponta.
Mesmo com tanta afinidade com o tema, não estava nos planos que, em 2020, o mundo assistiria a uma pandemia de Covid-19 de tamanha proporção. E o cenário atravessou de forma perversa os idosos, que, na opinião de Alexandre, sofreram de forma diferente.
"A Covid foi um evento catastrófico para as pessoas idosas. Elas morreram não só fisicamente, mas também socialmente, em especial as que já estavam em situação de vulnerabilidade, seja em periferias, em situação de rua, quilombolas ou em povos tradicionais", argumenta.
Mapear esse cenário no âmbito pós-pandemia para esboçar políticas públicas nas áreas de saúde e qualidade de vida é uma das pautas prioritárias do secretário em sua gestão. Ele afirma que a pasta já está em fase de diagnóstico de dados.
"Esse monitoramento é importante para descobrir o que está comprometendo os direitos humanos e impedindo o exercício pleno da cidadania dessa população, além de entender o que dá para ser aprimorado em relação à gestão anterior. E é necessário que outros ministérios façam seu papel para isso", diz.
Uma das iniciativas propostas, por exemplo, é identificar quais serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Sistema Único de Assistência Social (SUAS) podem ser incrementados para ofertar um melhor atendimento aos idosos em maior vulnerabilidade.
Questionado sobre suas relações de trabalho com Jundiaí, Alexandre diz que espera que as melhorias alcancem sua terra natal, desde que de forma igualitária num cenário macro, tendo em vista que, segundo ele, o município tem vantagem no quesito qualidade de vida. "Jundiaí tem uma perspectiva de envelhecer maior que a média de São Paulo, por exemplo. Outras cidades estão com dificuldade para chegar a esse nível, e a ideia é que as políticas públicas sejam para todas."
NÃO SOMOS TÃO JOVENS
Falando em envelhecer, não dá para olhar os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre a expectativa de vida da população brasileira, que subiu para 77 anos no balanço de 2022, e não se perguntar: e o que fazer com um país que está ficando mais velho?
A questão é cara a Alexandre, que aponta para um problema estrutural. "O Brasil envelheceu e, muito diferente da grande maioria dos países da Europa, não enriqueceu", frisa.
Por esse motivo, de acordo com ele, a busca por um modelo de políticas públicas que contemple os idosos de forma íntegra, percorrendo todos os direitos humanos básicos, o trabalho, além de formiga, também é dia após dia. "Não dá para importar modelos exitosos de outros locais para cá. Precisamos descobrir um que faça sentido aqui."
Para isso, segundo o secretário, é preciso antes mexer em um pilar sensível: a crença cultural de que envelhecer é ruim. "Nós envelhecemos juntos aqui nessa entrevista, e isso nos trouxe novas possibilidades", exemplifica ele, mantendo o entusiasmo.
E brinca, por fim, que o mundo que espera ver lá na frente é um monte de gente idosa menos preocupada com padrões estéticos impostos hoje em dia. "Quero que as pessoas usem cropped, que tenham cabelo assimétrico, que mostrem suas tatuagens. Quero que as pessoas entendam que envelhecer é bom, e isso é construir uma pauta positiva."
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Maria Aparecida Parelho
12/02/2023Rosane da Silva Alves Cunha
12/02/2023