Essa era uma frase que eu escutava muito, na minha infância, tanto da minha mãe quanto da minha avó. Claro que elas estavam fazendo o que achavam melhor para mim, pois mesmo criança, já começava a apresentar problemas com obesidade.
Seria melhor que elas, ao invés de me pedirem algo que eu simplesmente não conseguiria fazer por não ter consciência de que estava comendo rápido, se perguntassem o que eu estava buscando ao engolir a comida quase sem mastigar, querendo a sensação de barriga cheia quase que imediatamente.
Naquela época, os aspectos psicológicos que levavam a uma ingestão calórica excessiva não eram tão bem compreendidos. A situação hoje está melhor, mas ainda há muito por caminhar.
A obesidade é um problema de saúde complexo e envolve transmissão hormonal e neuronal entre estômago e alguns centros de uma área cerebral chamada hipotálamo (que regula a saciedade). A ideia parece bem simples: quando o estômago está cheio a sensação de saciedade é estimulada no nosso cérebro para que comamos devagar ou mesmo paremos a nossa refeição, nos dando por satisfeitos.
Nos últimos dez anos aprendemos que o tecido gorduroso não é simplesmente uma reserva de energia e contribui nesse "circuito" também, lançando mão de substâncias semelhantes a hormônios que ele mesmo produz, com o objetivo de se preservar ao longo do tempo. Dessa forma, um tecido gorduroso formado para uma fonte energética de reserva tende a se preservar atrasando a saciedade do indivíduo levando-o a comer calorias suficientes a fim de preencher esse espaço de reserva.
Complexo? Os elementos de influência não param aí, contudo!
Acontece que o hipotálamo é uma região do cérebro que possui ligação direta com o chamado "sistema límbico", complexo que lida com as chamadas emoções. Quando nos alimentamos, o prazer do ato preenche e estimula esse sistema. Da mesma forma, as emoções podem transbordar para o sistema de fome- saciedade, facilitando a ingestão maior do que a necessária.
Aliás, com frequência associamos os dois atos ao mesmo tempo: comemos porque estamos felizes ou realizamos banquetes para comemorar alguma data especial. A associação de prazer com alimentação torna-se praticamente inevitável.
Sendo o ato de comer de forma prazerosa a garantia de prazer puro, simples e quase pueril, começamos a buscá-lo quando precisamos de uma recompensa ou de uma compensação por fatos "entristecedores" na nossa vida.
Após utilizar com frequência esse tipo de recurso, comer passa a ser somente uma injeção de alegria instantânea, mas que dura somente até o nosso estômago ter a capacidade de digerir um pouco da comida que ele estoca. A sensação de vazio retorna e precisamos preenchê-lo continuamente, criando um excesso calórico e daí a obesidade.
A comida perde seu gosto e a refeição perde muito do seu significado, ficando somente o objetivo de se "empanzinar" de comida, que deve ser obtido cada vez mais rápido, fazendo a mecânica compulsiva de comer rapidamente.
Alexandre Martin é médico acupunturista com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)