Como manter-se mentalmente são

13/01/2023 | Tempo de leitura: 2 min

Já há algum tempo observo que enfrentamos um desafio nunca ocorrido na história recente da humanidade. Bem pouco tempo atrás, o acesso a informações demandava um esforço razoável para ser obtido.

De maneira bem prática, eu me lembro na minha infância, de haver em bibliotecas públicas e nos grandes colégios, várias enciclopédias, cujos livros totalizavam peso em papel da ordem de algumas centenas de quilos. A pretensão desse trabalho hercúleo era reunir em um local o máximo de conhecimento possível, de forma a transmiti-lo de maneira prática às pessoas de pouco contato com ele.

Isso já era uma grande revolução, tendo em vista que 500 anos antes o conhecimento, além de pouco, era restrito a grupos e sociedades que o detinham como uma forma de manter o poder para si. Com o surgimento da Imprensa, isso veio a diminuir drasticamente.

Incrivelmente, o desafio hoje é de natureza inversa. A quantidade de informação que chega aos nossos aparelhos de mídia é gigantesca, seja via mensagem de celular, por vídeos dos chamados influenciadores digitais, de notícias provenientes de órgãos de imprensa (alguns com ética e idoneidade, outros nem tanto) e muitos outros.

O desafio hoje passa a ser a "desinformação", ou seja, evitar construir conhecimento baseado em fatos dos quais a gente não sabe a procedência e que podem ser falsos, alguns até foram fabricados com esta a intenção de sê-los. Quero lembrar que durante a Guerra Fria a "desinformação" era um termo utilizado para designar uma tática de guerra e contraespionagem entre grandes nações. Pode-se imaginar o resultado, mesmo não intencional, do seu uso indiscriminado.

No meu caso, observo o impacto nos meus pacientes, pois trato vários casos de ansiedade que são provocados, na sua raiz, por "certezas" fundamentadas em informações que chegam desencontradas de grupos de aplicativos de comunicação e mesmo sites com propostas enviesadas.

Outrora, devido à escassez de informações, era raro confirmarmos a validade delas quando as tínhamos, mas hoje observo necessidade constante em buscar verificação e mesmo outras fontes antes de permitir-se atingir por uma notícia inesperada.

Aconselho a muitos pacientes que eu tenho, que regem o seu tempo de contato com esses aplicativos, que elejam duas ou três fontes no máximo para obter as informações relevantes para o seu dia a dia. O uso racional do fluxo informativo, que passa até por uma restrição controlada dele, é fundamental para a manutenção da estabilidade emocional.

Sabemos que as palavras carregam uma quantidade de energia que é desprendida quando são proferidas, vindas de quem as fala, de quem elabora as frases. Aliada à tecnologia de comunicação, que replica imagens e narrativas em uma progressão exponencial, falas mal-intencionadas têm o mesmo efeito de uma bomba.

Ao sermos expostos a essa energia, acaso não tenhamos uma estrutura adequada para receber o que ela nos propõe, o efeito é semelhante a um meteoro que atinge a superfície do planeta, só pode causar estrago, desestruturando aquilo que já existe.

Alexandre Martin é médico acupunturista, com formação em medicina chinesa e osteopatia (xan.martin@gmail.com)

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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