Como a acupuntura trata a dor?

21/10/2022 | Tempo de leitura: 3 min

Quando falo que acupuntura é considerada uma especialidade médica há mais de 20 anos, muitas pessoas ainda se surpreendem. A surpresa continua quando explico que ela alcançou este feito pelo incansável trabalho de pesquisadores para provar as suas bases científicas.

Sabemos hoje que a punção (e outras formas de estímulo) nos locais do corpo que reconhecemos como os famosos "pontos de acupuntura" geram uma reação do sistema nervoso que produz substâncias analgésicas e anti-inflamatórias. O efeito ocorre de maneira mínima se utilizarmos os mesmos estímulos em locais que não são pontos reconhecidos, provando que a escolha do local é fundamental para o efeito na forma máxima.

Essas substâncias primeiro se distribuem pelo líquido cefálio-raquidiano, que é o líquido nutritivo circundante do cérebro e a medula espinhal, e logo depois essas substâncias ganham a corrente sanguínea, sendo possível serem dosadas e desta forma comprovar a ação específica desses pontos com exames laboratoriais, inclusive.

Isso tudo está bem estabelecido e comprovado por vossa literatura técnica. Quando comecei a escrever esse texto, contudo, quis apresentar um outro aspecto, mais tradicional.

Na visão da medicina tradicional chinesa, o corpo só funciona porque realiza as suas tarefas de forma inteligente e coordenada pelo fluxo da energia nos canais e meridianos que correm através de estruturas como músculos e articulações.

Caso esses canais não sejam permeáveis para que o fluxo de energia ocorra com a velocidade e liberdade que são necessárias, as estruturas que são coordenadas por eles saem do ritmo, como quando instrumentos de uma orquestra desafinam e comprometem a música como um todo.

O sintoma da dificuldade de fluxo em um canal na periferia do corpo é a sensação de dor. A imagem mais tradicional nos clássicos de literatura médica chinesa é a de um rio que tem o seu fluxo atrasado, perturbado, por elementos no seu leito que não deveriam estar ali, como pedras, lixo ou mesmo vegetações.

A água atrasa, gera redemoinhos e mesmo extravasa nas laterais.Essa imagem do rio lembra muito a fase inicial do processo de inflamação em um tecido como o muscular.

Uma lesão faz com que se altere o fluxo sanguíneo local do tecido e os elementos celulares que viajam dentro do vaso extravasam criando o inchaço e o calor típicos desse processo.

Os bloqueios dos canais e meridianos podem ser oriundos de variações climáticas (as famosas "friagens" que pioram a sensação de dor nos músculos e articulações) ou mesmo vindo de perturbações emocionais fortes o suficiente para atrapalhar o fluxo de energia da periferia do corpo.

Essas seriam as situações em que as dores se iniciam depois de um estresse, algum abalo emocional que o indivíduo passa.

O tratamento nada mais é do que o estímulo de pontos cuja a ação faz com que o meridiano libere esses bloqueios e que em nosso fluxo a velocidade natural se restabeleça. Caso falte água (uma alusão à energia que trafega pelos canais)  existem ainda pontos que liberam maior fluxo e que colocam os canais em conexão uns com os outros, refazendo a integração do conjunto.

Alexandre Martin é médico especialista em  acupuntura, com formação em medicina chinesa e osteopatia.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

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